sábado, 19 de outubro de 2013

O problema dos estereótipos

"Para piorar ainda mais a questão, além de buscarmos preferencialmente as evidências que confirmam nossas noções preconcebidas, também interpretamos indícios ambíguos de modo a favorecerem nossas ideias; (...) assim, ignorando alguns padrões e enfatizando outros, nosso cérebro inteligente consegue reforçar suas crenças mesmo na ausência de dados convincentes."  

Em O Andar do Bêbado, o autor Leonard Mlodinow descreve brevemente uma reação psicológica do ser humano e sua influência na nossa interpretação do aleatório. Essa reação é o chamado viés da confirmação e é algo que, para mim, se torna cada vez mais claro.



Se a gente parar pra pensar, a gente estabelece estereótipos de muita coisa: das professoras de jardim de infância aos políticos brasileiros, dos famosos na televisão  aos mendigos na nossa rua. Para quase tudo a gente concebe uma idéia após alguns poucos dados.


Estereótipo é assim definido:
s.m. Comportamento desprovido de originalidade que, faltando adequação à situação presente, se caracteriza pela repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal.
Que se adapta ao padrão de uma normalidade já fixada.

Padrão estabelecido pelo senso comum (de um pensamento compartilhado) e baseado na ausência de conhecimento sobre o assunto em questão.

Concepção baseada em ideias preconcebidas de algo ou alguém, sem o seu conhecimento real, geralmente de cunho preconceituoso e/ou repleta de afirmações gerais, construída sobre inverdades.

Algo desprovido de originalidade e repleto de clichês.

E assim, sem muita originalidade e nos deixando levar pelo senso comum, formamos estereótipos do mundo que nos cerca.
Mas isso não necessariamente é uma coisa ruim. Os estereótipos muitas vezes nos ajudam a responder na ausência de novos dados. É como se nos protegessem de surpresas e facilitassem nossa interação com o mundo. 

O problema está quando mais que uma ferramenta ao nosso alcance, os estereótipos se tornam uma couraça sobre nós e nossas ideias, que dificilmente se desfaz. E aí o viés da confirmação se torna nossa pedra de tropeço e, se não nos damos conta dessa nossa tendência, acabamos por tomar decisões erradas.

O que mais tem me chamado atenção nesses últimos tempos, é o nosso esforço de encaixarmos as pessoas de culturas diversas da nossa nos nossos moldes estereotipados. Assim, quando conhecemos italianos, americanos e alemães, nos esforçamos por encontrar neles sinais que confirmem que, de fato, são alegres, nacionalistas e sérios em demasia, respectivamente, conforme sempre acreditamos.

"O viés da confirmação tem muitas conseqüências desagradáveis no mundo real. (...) quando as pessoas interpretam o comportamento de alguém que seja membro de uma minoria étnica, tendem a interpretá-lo no contexto de estereótipos preconcebidos." (O Andar do Bêbado).

Vivendo na Espanha, percebi que o contrário também é verdade. As pessoas gastam uma energia louca tendendo encontrar na gente as características que pensam que todo brasileiro possui: adorar um samba e um futebol. 

Mas estar concentrado em encontrar e confirmar padrões, nos impede de encontrar informações que nos permitam minimizar nossas conclusões falsas. Nos impede de conhecer de verdade as pessoas, suas histórias, suas características que são próprias delas e não de uma coletividade mais ou menos encaixada num molde. E isso é um desperdício do contato humano, não é não?

"Ainda assim, não precisamos ficar pessimistas, pois temos a capacidade de superar nossos preconceitos." Basta nos lembrarmos de abrirmos nossa cabeça para dados novos e aprendermos a questionar nossas próprias teorias.