segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Construindo a Civilização Ocidental

Renascimento Carolíngeo -
progresso intelectual pós invasões Bárbaras

"Se muitos forem infectados pelos seus objetivos, uma nova Atenas será criada na França, não, uma Atenas melhor que a antiga, pois a nossa, enobrecida pelos ensinamentos de Cristo, superará toda a sabedoria da Academia. A antiga possuia somente as disciplinas de Platão como professor e ainda assim, inspirada pelas sete artes liberais, ela brilhou com esplendor: mas a nossa será também dotada com a plenitude, composta em sete partes, do Espírito Santo e superará em brilho e grandeza toda a dignidade da sabedoria secular."

(Carta de Alcuin, abade do monastério de São Martin em Tours a Carlos Magno.- Alcuin, Ibid., 77)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Somente a batalha

Como parte da mentalidade esquerdista e revolucionária que domina as cabeças das pessoas não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a crença de que quem é contrário a banalização de temas atrelados ao feminismo, homossexualismo e tantos outros aspetos relacionados à ideologia de gênero é simplesmente preconceituoso, antiquado e conservador faz com que conversas resultem em ofensas e diálogos sejam infrutíferos. 
Bom, pelo o menos é isso que eu venho observando sistematicamente no mundo que nos rodeia, nas redes sociais, nas conversas com amigos...
Para mim não há dúvida de uma coisa: estamos em meio a uma guerra cultural fortíssima, onde estão em jogo a ordem, a moral e a beleza estética.

E nessa guerra que é lutada também nos campos políticos e institucionais, a última batalha foi conquistada graças a atuação e a união daquela "maioria oprimida", cada vez mais subjugada pela nossa "cultura de vítimas". 
Ocorridos nessa última semana nos campos de batalha do Congresso Nacional, três fatos merecem nossa atenção:

1) A elaboração do texto da Reforma do Código Penal brasileiro, a cargo da Comissão Especial foi finalmente finalizada após longo debate e luta ideológica.
Apesar da insistência de grupos que pleiteavam a aprovação da liberação do aborto de fetos de até 12 semanas, a redação sobre o assunto mantém o texto atual (Código Penal de 1940), exceto para o caso dos anencéfalos, questão já decidida pelo STF. A definição da causa ressoa como um eco da voz do povo brasileiro, que é cada vez mais contrário à legalização do aborto, apesar de pressões internacionais que insistem em suscitar a legalização desse crime no Brasil. (Aqui cabe salientar que, com 12 semanas, um feto já um ser completamente formado, que praticamente só cresce em tamanho até o fim da gestação. Esse vídeo apresenta imagens de ultra-som, chocantes, de um aborto nesse estágio: Aborto feto de 12 semanas)

Além disso, respondendo a um receio da sociedade brasileira, a Comissão excluiu do Código Penal os conceitos gênero, identidade de gênero, orientação sexual e identidade sexual, que servem meramente para fins ideológicos e não possuem clara definição no sistema jurídico brasileiro.
A importância dessa exclusão está no perigo que a relativização e sobreposição dos conceitos de gênero e sexo podem ter em futuros temas legais. 



2) De forma semelhante, o tema da ideologia de Gênero também foi excluído do novo texto do Plano Nacional da Educação, aprovado no Senado e enviado para nova votação na Câmara na última terça-feira. Essa se trata de uma grande vitória já que, se aprovado como estava, com a distinção entre sexo biológico e gênero (em que escolha sexual e gênero não estão ligados ao sexo biológico do indivíduo) seria obrigatória e, até o ano de 2020 nas escolas, essa posição não estaria aberta a discussões, sendo de adesão compulsória. 
Hoje, o tema da sexualidade infantil e a ideologia de gênero já fazem parte da realidade das escolas brasileiras, mas apenas seguindo diretrizes que são recomendações do ministério da educação. Um exemplo de como as coisas estão sendo tratadas foi dado por essa mãe, de Belo Horizonte, que observou a confusão de sua filha de 10 anos após uma aula de educação sexual: Sexualidade infantil nas escolas.


3) Também nesta semana, o PLC 122 foi apensado ao Código Penal. Apesar de ter nascido por uma iniciativa visando a criminalização da homofobia, esse projeto de lei tomou novos rumos, se dirigindo para o tratamento não da homofobia, mas sim da questão de gênero. Por fim, foi opção dos parlamentares apensarem o tema ao Código Penal e, de maneira justa, dando à homofobia o mesmo tratamento que todas as outras formas de injúria e crime pessoal.
Aqui é importante salientar que não se trata de preconceito, trata-se de proteção da família e de seu valor. Faz parte do modus operandi da esquerda querer tratar de forma paternalista e vitimizar toda e qualquer minoria, aproveitando-se de diferenças e criando saltos legais e sociais.


Três importantes conquistas que, mesmo que não sejam finais, significam muito. Ainda assim, não podemos esquecer do mar comunista em que nós nadamos na América Latina. A guerra não está ganha e o Brasil não está imune às pressões da revolução cultural que ocorre no mundo. Pelo contrário, nosso país está cada vez mais dentro desse buraco. Precisamos nos fazer ouvir e expor nossas vontades e valores e, para isso, precisamos nos formar!




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Tomar a comunhão por si mesmo... pode?

Quem já frequentou a catedral da Boa Viagem em Belo Horizonte já viu isso: na hora da comunhão, todos em procissão, recebemos o Corpo de Cristo das mãos do sacerdote ou ministro e, com nossas próprias mãos, imergimos a hóstia no Sangue de Jesus. Outros exemplo mais comum espalhado por centenas de paróquias Brasil afora é aquele dos ministros da eucaristia ou outros fiéis que tomam o Corpo de Jesus por si mesmos direto no altar. Essa maneira "moderna" e "prática" de comungarmos está certa?
Hoje, através de um vídeo do site do Padre Paulo Ricardo, aprendi um pouco mais sobre isso e recomendo a todos:



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Destino inevitável


Padre Pio foi um sacerdote franciscano, nascido na cidade de Pietrelcina na Itália e que viveu grande parte de sua vida em San Giovani Rotondo, também na Itália. Mas longe de ser somente mais um sacerdote: foi um grande santo, canonizado em 2002 pelo Papa João Paulo II.
Na sua vida, os milagres abundaram de forma extraordinária. Entre eles, as profecias não foram os milagres mais portentosos e impressionantes, mas ocorreram em grandes quantidades e por toda sua vida. Uma dessas profecias é narrada no livro Padre Pio de José Maria Zavala:

"Um dia, depois da Missa e da ação de graças, o Padre Pio levantou-se, olhou ao redor e chamou um homem: "Venha comigo", ordenou-lhe. 
Meia hora depois, aquele mesmo homem (...) relatou o que acabara de lhe suceder:

- É a primeira vez que venho a San Giovani Rotondo. Nunca tinha visto o Padre Pio. Quando cheguei no corredor, convidou-me para ir à sua cela. Em seguida, perguntou-me: 'Como você está?'. 'Bem', respondi. O frade acrescentou comovido: 'Amigo meu, dentro de uma semana você deixará este mundo. Não tenha medo! Prepare-se humildemente. Estarei continuamente ao seu lado e eu mesmo o acompanharei até o céu.'
(...) Uma semana depois, soube que aquele homem tinha falecido por causa de uma enfermidade repentina, tal como o Padre Pio havia profetizado."
(José Maria Zavala, Padre Pio)

Enquanto lia essas palavras, me pus a pensar na sorte daquele homem que, como que é descrito, fica pálido e triste ao saber da notícia dada pelo Padre Pio. Porque sorte? Sorte de saber o dia de sua morte, pensava comigo. Sorte de poder se preparar, confessar-se, resolver qualquer pendência com o mundo e, humildemente, caminhar rumo ao encontro com o Pai. 
Mas logo depois, me dei conta de que invejar tal profecia não faz sentido. Afinal, não carecemos de profecia alguma que nos diga que vamos morrer. Aliás, essa é a nossa única certeza. Por mais que queiramos fugir disso, fechar nossos olhos, ignorar esse fato, a verdade é que, cedo ou tarde, todo vamos morrer.
E como essa verdade nos liberta!
Ao tomarmos consciência de que essa vida é sim passageira, podemos vivê-la numa "constante preparação" para a morte, que nada mais é que uma porta para a vida eterna. O que devemos fazer é viver sempre da mesma maneira que aquele homem deve ter vivido sua última semana de vida, profetizada por Padre Pio: preparando-nos humildemente, atando nossos nós, perdoando aqueles que nos magoam, pedindo o perdão pelos nossos erros, sem deixar palavras para trás, com nosso olhar voltado para Deus e seu reino que nos espera. Devemos viver de modo a buscar nos fazer dignos que encontrar a Deus face a face...
Nunca sabemos quando vai ser nosso momento, mas sabemos sim que ele vai chegar.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Conhecendo a Liturgia das Horas

Conheci uma "majísima" senhora galega a umas semanas atrás. Esta senhora, Maria de Jesus, ficou super feliz ao saber que eu era brasileira. Ela já havia estado no Brasil algumas vezes e, segundo ela, foi a Providência que nos uniu e que a espiritualidade que existe no Brasil não se encontra na Europa inteira.
Como eu mesma já disse aqui, o meu primeiro contato com a Igreja na Espanha foi de fato um choque e a diferença entre Brasil e Europa é gigante. Mas isso não quer dizer necessariamente que a vivência espiritual dos católico no Brasil seja um exemplo a ser seguido pelo mundo todo.
A Europa tem muitas coisas a nos ensinar...
Durante breves 3 dias que passei na Itália no mês de novembro, conheci um grupos de senhorinhas muito simpáticas e acolhedoras que, antes da Missa, recitavam uma oração de um livrinho que eu nunca tinha visto. 
Também, na semana passada, tive a mesma experiência, dessa vez em catalão: antes da Missa na igreja de São Carlos Borromeo, a mesma sequência de oração retirada de um livrinho. Dessa vez, eu prestei mais atenção. Apesar de não entender muito as palavras que liam, pude entender que se tratava a Liturgia das Horas, que eu já tinha ouvido falar mas que nunca experimentei no Brasil.
Assim, aos poucos, fui juntando os pontos.
O meu livrinho de liturgia diária que eu adotei desde que cheguei aqui, o Magnificat, contem duas orações todos os dias que eu simplesmente ignorava. Depois de conhecer um pouco da Liturgia das Horas, vi que tais orações fazem parte dessa prática que é, de fato, uma prática bem mais comum entre os espanhóis que entre brasileiros.
(Eu imagino que diversas pessoas no Brasil rezam sim a Liturgia das Horas, mas penso que é um hábito mais comum entre os fiéis europeus. Afinal, foi só aqui que "esbarrei" duas vezes seguida nessa oração até então desconhecida por mim).
Magnificat de Dezembro
Mas o que é então a Liturgia das Horas, ou Ofício Divino?
A Liturgia das Horas é conhecida como a oração oficial da Igreja. Esse título fez com que, ao longo do tempo, as pessoas pensassem que se tratasse de uma oração exclusiva do clero ou dos religiosos.
Mas não é nada disso. É a oração em que a Igreja, toda junta, reza por cada um individualmente e pela própria Igreja como um todo. Sua função, como o nome diz, é a santificação das horas e, assim, do dia como um todo. Através da Liturgia das Horas e de uma oração constante cumprimos o que o próprio Jesus nos recomenda: 
"Orai sem cessar.
Em todas as circunstâncias, dai graças,
porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo."

Ao contrário do que eu acreditava, não é feita para ser rezada de hora em hora (o que seria muito difícil), mas, estritamente falando, a cada 3 horas. Em sua origem, baseada no ritmo de oração dos monastérios, a Liturgia das Horas nos apresenta 7 orações para o decorrer do dia: 

  1. O Ofício das Leituras, durante a madrugada (ou quando for possível ao longo do dia);
  2. As Laudes ou Oração da Manhã, às 6 da manhã;
  3. A Terça, às 9 da manhã;
  4. A Sexta, ao meio dia;
  5. A Nona, às 3 da tarde;
  6. As Vesperas ou Oração da Tarde, às 18 horas e
  7. As Completas, à noite, antes de dormir.

Costumeiramente, a terça, sexta e nona são rezadas juntas ao meio dia, ou Hora Média, somando, assim, 5 orações ao largo do dia e assim, em diversos momentos diários, a Liturgia das Horas expressa esse contínuo "ir beber da Água Viva" cada vez que tenhamos sede. Nossa alma no meio desse mundo, se afoga e necessita chegar perto de Deus, fonte de amor, para que Ele reanime e vivifique nosso interior.

A Liturgia das Horas é composta principalmente de Salmos e Hinos do Novo e Velho Testamentos. Quem a reza diariamente, ao final de um mês terá rezado todos os 150 Salmos. Além disso, possui um conjunto belíssimo de passagens bíblias e preces que tornam a "conversa" com o Pai mais simples e proveitosa: falar com Deus usando Suas próprias palavras. 
Para nós, fiéis leigos, a Igreja Recomenda a oração da Liturgia das Horas compreendendo as orações mais importantes que são as Laudes, as Vesperas e as Completas (justamente aquelas presentes nesse livrinho de liturgia diária tão comum na Espanha e que eu ignorei por tanto tempo).
As Laudes são compostas por Salmos e Hinos de louvor, que louvam a Deus por mais um dias e o colocam em suas mãos. Apresenta também o Benedictus, ou Cântico de Zacarias (Lc 1, 68-79).
As Vesperas, rezadas ao fim do dia de trabalho, são compostas por Salmos e Hinos de agradecimento, de Ação de Graças pelo fim de mais um dia. Apresenta o Magnificat, ou Cântico de Maria (Lc 1, 46-55).
As Completas são rezadas na preparação para o descanso noturno e com elas terminamos o "rito de orações" e nos encomendamos ao Senhor antes dormir. Apresentam o Cântico de Simeão (Lc 2,29-32). 

No site LiturgiadasHoras.Org, é possível encontrar, em português, as orações de cada dia e cada hora.
Que tal conhecer um pouco mais sobre a Liturgia das Horas e se propor essa experiência? 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Caminhos e mais caminhos...

Depois de algumas semanas na minha casa nova na Espanha, depois de colocar os móveis e os sentimentos no lugar, percebi que algo de muito importante faltava no nosso apartamento: um crucifixo.

Que espécie de Cristã sou eu sem um crucifixo para me lembrar do maior sacrifício da história humana? Sem uma cruz na mesa, na parede, no quarto ou na sala, me fazendo recordar e agradecer pelo milagre da nossa redenção?

Bom, depois de descobrir onde se podia encontrar artigos religiosos em Barcelona, me dirigi à loja do Apostolado Litúrgico (Via Laietana, 46.A, Barcelona, Tel: +34 932 680 449), onde encontrei um crucifixo maravilhoso, do jeito que eu queria.
Na cruz vê-se, aos pés de Jesus, a graciosa figura de Nossa Senhora. Além disso, em cada canto, tem-se um dos quatro seres viventes do Apocalipse.

Cruz Neocatecumenal - Cruz Gloriosa 
A senhora que me atendeu, se apressou em assegurar que eu soubesse do que se tratava: era a cruz do Caminho Neocatecumenal (chamada Cruz Gloriosa), de Kiko Argüello. Como de costume, aquelas palavras ficaram quietinhas na minha cabeça até hoje, quando contemplando aquela linda cruz dourada, resolvi pesquisar o que era o tal caminho e quem era o tal Kiko.

O Caminho Neocatecumenal foi definido Papa João Paulo II como "um itinerário de formação católica, válida para a sociedade e para os tempos de hoje”. Trata-se de um instrumento das paróquias a serviço dos Bispos, para iniciar, renovar e amadurecer na fé tantas pessoas que se encontram longe da Igreja. O nome Neocatecumenal faz alusão à Igreja Primitiva, quando aqueles interessados em se tornarem cristãos e receber o batismo, os chamados catecúmenos, deviam percorrer um caminho de preparação e transformação de vida até estarem prontos para serem batizados e entrarem na Igreja de Cristo.

O Caminho começou por obra de Kiko Argúello e Carmen Hernandez, na década de 1960, em Palomeras Alta, uma das favelas mais pobres de Madri, na Espanha. Na mesma época, o Caminho foi confirmado e apoiado pelo então Arcebispo de Madri, Casimiro Morcillo, que constatou, na primeira comunidade de Palomeras, uma verdadeira redescoberta da Palavra de Deus e uma concretização da renovação litúrgica, então fomentada pelo Concílio Vaticano II e em resposta às demandas criadas por ele.

O Caminho Neocatecumenal nada mais é que um caminho de conversão em que é possível redescobrir as riquezas do Evangelho. 

Em 1964, Francisco (Kiko) Argüello, um pintor nascido em León (Espanha), e Carmen Hernández, licenciada em Química e formada no Instituto Missionárias de Cristo Jesus, encontram-se entre os favelados de Palomeras Altas, na periferia de Madri. Três anos depois, neste ambiente composto sobretudo de pobres, forma-se uma síntese kerigmático–catequética que, sustentada pela Palavra de Deus, pela Liturgia e pela experiência comunitária, e sobre a trilha do Concílio Vaticano II, tornar-se-á a base daquilo que o Caminho Neocatecumenal levará a todo o mundo.

Hoje, o caminho neocatecumenal se encontra difundido em mais de 100 países, incluindo alguns que não são tradicionalmente cristãos como China, Egito, Coréia do Sul e Japão, como um itinerário de formação cristã, cujo objetivo consiste em abrir um caminho espiritual concreto de iniciação, renovação e valorização do sacramento batismal, que permita ao "catecúmeno" descobrir o significado concreto de ser cristão. 

No site do Caminho, há um trecho de um testemunho do seu fundador muito bonito, que eu transcrevo aqui:
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AS ORIGENS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL 

Extrato do testemunho de Kiko 

"... Tinha um estúdio de pintor vizinho à Praça de Espanha em Madrid, e era comum passar as festas natalícias com os meus pais. Um ano, fui para casa para celebrar o Natal, entrei na cozinha e vi a cozinheira que estava chorando. Eu lhe pergunto: “Berta – assim se chamava – que lhe acontece?” e ela me disse que o marido é um beberrão, que quer matar o filho, que o filho se rebelou contra... Contou-me uma história que me deixou assustado. E escutei de Deus de ajudá-la. 

Fui ver onde morava: uma barraca horrível, em meio a tantas outras. A pobre mulher se levantava muito cedo, para ir trabalhar; tinha nove filhos, e era casada com um homem coxo e estrábico, sempre bêbado. Batia nos filhos com um bastão gritando a eles: “Defende o teu pai” e, às vezes, bêbado, urinava sobre as filhas. Essa mulher, bastante bonita, apesar de ter idade, me contou coisas alucinantes. 

Tomei aquele homem e o levei a fazer um “Cursilho de Cristandade”. Ficou impressionadíssimo ao escutar-me falar. Por alguns meses, deixou de beber, mas depois recomeçou e começaram de novo as bagunças. A mulher me chamava: “Senhor Kiko, venha, por favor, porque meu marido quer matar a todos. Chame a polícia!”. Não me deixavam viver. Por fim, pensei: “E se Deus me estivesse dizendo de deixar tudo e de ir viver ali para ajudá-los?”. Deixei tudo e fui viver com aquela família. Dormia numa pequeníssima cozinha, que estava cheia de gatos. 

Vivi ali e fiquei muito impressionado, vos digo a verdade, de todo o ambiente. Havia muita gente que estava vivendo em situações terríveis. Não sei se conhecem o livro de Camus, “A peste”, que afronta o problema do sofrimento dos inocentes. Aquela mulher, Berta, me contou que seu marido, coxo, para vingar-se das tantas humilhações recebidas, tinha dito a todos que se casaria com ela, que era a moça mais bonita do quarteirão. Todos riam dele. Mas, sabeis como ele a desposou? Apontando-lhe uma faca no pescoço e dizendo-lhe: “Se não te casas comigo, corto a garganta do teu pai”. E o teria feito. Seu pai era viúvo e ela era só e terrivelmente tímida e medrosa. 

Perguntei-me: que pecados cometeu esta pobre mulher para merecer uma vida assim? Por que não eu? E não havia só ela. Havia uma outra mulher perto que tinha a doença de Parkinson, o marido a tinha abandonado e vivia pedindo esmola. E um outro. E um outro ainda. Diante de tudo isto existe só duas respostas. Conhecem a frase famosa de Nietzsche: “Ou Deus é bom e não pode fazer nada para ajudar essa pobre gente, ou Deus pode ajudá-los e não o faz, e então é mau”. Esta frase é venenosa. Pode Deus ajudar aquela mulher, ou não? Por que não faz? 

Nesta situação, tive uma surpresa. Sabeis que coisa vi ali? Não aquilo que diz Nietzsche, se Deus pode ou não pode, mas vi Cristo crucificado. Vi Cristo em Berta, naquela mulher com o Parkinson, naquele outro. Vi um mistério. O mistério da cruz de Cristo. Fiquei enormemente surpreso, o digo sinceramente. 

Depois me chamaram para o serviço militar e me mandaram à África. Quando tornei, disse a mim mesmo: se amanhã volta Cristo sobre a terra na sua segunda vinda, eu não sei que coisa sucederá neste mundo, mas sabem onde desejo que Jesus Cristo me encontre? Aos pés de Cristo crucificado. E onde está Cristo crucificado? Naqueles que estão levando o sofrimento maior, as conseqüências dos pecados de todos. Diz Sartre: “Ai do homem que o dedo de Deus esmague contra o muro”. Eu vi ali gente esmagada contra o muro, tantos fracos esmagados pelas conseqüências do pecado, fracos, anônimos cirineus. 

Quando alguém vai viver entre os pobres, ou perde a fé e se torna guerrilheiro a la “Che Guevara” ou se põe em silêncio diante de Cristo e se santifica. Eu sou grato ao Senhor por ter tido piedade de mim: eu vi ali Cristo crucificado e assim quando voltei da África, e conheci a irmã de Carmen, pensei que era necessário descer nas catacumbas sociais e ali pregar o Evangelho a esta gente, ajudá-los, dar a eles uma palavra de consolação. E assim formamos um grupo que se dedicava aos homossexuais, às prostitutas e aos outros marginalizados. 

Charles de Foucauld me deu a fórmula: viver em silêncio, como Jesus em Nazaré, aos pés de Jesus Cristo em meio àquela gente. Conheci um assistente social que me indicou uma zona de Palomeras Altas onde havia uma barraca de tábuas de madeira, refúgio de cães. Disse-me: “Põe-te ali e não te preocupes”. E ali teve início um pouco tudo. Nas barracas, eu queria viver como Charles de Foucauld, em contemplação: assim como alguém fica diante da Eucaristia, aos pés da presença real, única de Cristo; eu queria estar aos pés de Cristo crucificado, nas pessoas mais pobres, miseráveis. 

O Senhor me levou ali com este espírito: eu era o último. Eles eram Cristo. Talvez alguém teria podido dizer-me: “Kiko! Ajuda-os”. Aqui há um ponto muito importante para aqueles que sabem ir a fundo nas coisas. “Mas como? Tu te pões em adoração, quando esta gente está morta de fome? Dá a eles de comer”. Eu não tinha nada, não havia levado outra coisa além de uma Bíblia e um violão, dormia sobre um colchão posto sobre a terra nua. Não tinha outra coisa. 

Tinha lido em um livro alguma coisa que me tinha marcado muito do tempo dos nazistas. Contava-se um fato histórico acontecido no campo de concentração de Auschwitz. Um chefe da Gestapo tinha se dado conta das atrocidades que estavam cometendo no genocídio dos hebreus. Um dia, durante uma inspeção em um campo, viu passar uma coluna de homens e mulheres em direção às câmaras de gás. Sentiu no seu coração uma grande dor. Perguntou-se: “Que devo fazer eu agora para ajudá-los, para ter paz comigo mesmo?”. Sabeis a resposta que recebeu desde dentro? (Os Padres da Igreja falam do Cristo falante, dentro de você. É alguma coisa de muito profundo). O livro contava que aquilo que sentiu que deveria fazer era de desnudar-se também ele e por-se em fila com eles. 

Isto tem valor? Aquilo que se deve dar é só a ajuda social? Talvez o homem é só comer? O homem tem necessidade de saber se Deus existe ou não existe, se o amor existe ou não? Eu não fui às barracas para dar de comer, nem para ensinar a ler. (Eram todos analfabetos, com exceção de um ou dois: José Agudo, que esteve em um instituto de correção sabia ler, mas sua mulher não. Ciganos, “quinquis”, rapazes do cárcere sabiam ler com dificuldade). Fui ali e, se quereis saber, nem mesmo pensava de pregar, sabeis de fato que os Pequenos Irmãos de Foucauld estão “em silêncio”. Queria dar testemunho vivendo em meio a eles como Jesus em Nazaré. 

E que aconteceu? Aquilo que sempre acontece. O vizinho, um dia que fazia um frio do cão, porque era inverno e nevava – eu me esquentava com os cães errantes que viviam comigo – entrou improvisadamente e me disse: “Te trouxe um braseiro porque estás morrendo de frio!”. 

Pouco a pouco se aproximavam e perguntavam: “Quem é este que está aqui, com barba e violão?”. Para alguns era um que tinha feito um voto, para outros um protestante, porque levava sempre a Bíblia. Os ciganos vinham pelo violão... Não sabiam quem eu era. José Agudo, que então estava em briga com outro clã de “quinquis”, se aproximou de mim para perguntar-me o que dizia o Evangelho sobre o fato de bater-se. Eu lhe li o Sermão da Montanha que diz de não resistir ao mal e ficou com a boca aberta: “Como? Mas se não me defendo, me mata! Que devo fazer?”. Dei-lhe para ler os “Florilégio de São Franscisco” que o impressionaram muito e não me deixou mais. 

Bem, nao me ponho a contar-vos estas histórias porque se tornaria muito longo..."
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Mas e a Cruz Gloriosa? 

Dentro da pedagogia do Caminho Neocatecumenal existe um cuidado muito especial para com os sinais. Todos eles devem ser para o espectador um reflexo do amor de Deus pelo homem. Não se pode, portanto, subestimar o valor e o significado de alguns elementos das nossas celebrações - e a cruz é um deles. 

A Cruz Gloriosa foi desenhada pelo fundador do Caminho, Kiko Argüello que, como artista, dotou a cruz de todo um significado catequético: 

O pé da base da cruz tem uma forma muita característica. Ali aparecem três figuras curvas simétricas. Uma das extremidades de uma das figuras tem a forma de uma cabeça de um animal semelhante a uma águia, com um bico. Essa figura disforme e "quase-animalesca" representa o demônio. Em toda a tradição iconográfica cristã, as representações pouco definidas de animais simbolizam o mal, entendida como caos, escuridão, trevas, desordem. Essas três figuras de animais pouco definidas recordam a sinuosidade do diabo, que, condenado a rastejar no pó (Gn 3:14), tenta o homem com toda a sua astúcia a romper com Deus, para que seja ele, e nenhum outro, o deus de si mesmo. 

A cruz erguida sobre essa base que representa o mal, simboliza e anuncia a vitória da vida sobre a morte, da verdade sobre a mentira. Assim, a "Cruz Gloriosa", que se eleva sobre essa base que simboliza o mal reproduz a vitória de Cristo sobre a morte e sua elevação. 

Aos pés da cruz está a Virgem Maria, pilar da Igreja. Ali, nos convida a imitar a Cristo, a não nos chocar e a não fugir do sofrimento. A Virgem, entre o mundo (representado pela bola da base) e Cristo, é nossa intercessora. Vela por nós e nos leva a seu Filho. Como nas bodas de Caná, convida-nos a fazer o que ele nos diz, para obedecê-lo e segui-lo. Ela é a cristã perfeita, a primeira mártir que, longe de escandalizar-se, assume a responsabilidade pelo "fruto do seu ventre", mostrando-nos o caminho. 

Ela é a imagem da Igreja, que nos acompanha no nosso caminho, enquanto estamos no mundo, e mostra-nos como se apegar a cruz e não fugir, como amar sem medidas e não odiar, como perdoar com o coração e não culpar. Sem a Virgem, o sofrimento da cruz não pode ser compreendido. Ela, aceitando a vontade de Deus, nos encoraja, mesmo sem sentido, a não negar o Seu amor e esperar no Seu Nome. Assim, Maria está presente nesta cruz, porque sem ela jamais poderíamos chegar ao conhecimento da verdade, e ver a cruz como Gloriosa.

A cruz tem em seus quatro cantos quatro animais, que são os quatro seres viventes do Apocalipse (Leão, Águia, Touro e Homem), tradicionalmente associados com os quatro evangelistas. Estes quatro símbolos, chamados tetramorfos, estão nos quatro cantos, representando os quatro pontos cardeais onde chega o anúncio do Evangelho, isto é, a todas as nações.
O leão seria Marcos, porque seu Evangelho começa com a pregação de João Batista, que cumpriu a profecia de Isaías: "Uma voz clama no deserto : Preparai o caminho do Senhor , endireitai as suas veredas". O touro seria Mateus porque seu Evangelho começa com a genealogia de Jesus. O "rosto humano" (representado na iconografia sagrada como um anjo) é Lucas, com o Evangelho da Anunciação, e que enfatiza a humanidade de Jesus. Finalmente, a águia representa João, já que seu Evangelho começa da altura sublime da Divindade do Logos e "caminha para baixo" em círculos até a humanidade. 

A cruz, por fim, tem a forma de um anzol, porque Deus, através da cruz de seu Filho resgata suas criaturas, nós, homens, de seu ambiente natural, água (imagem da morte) para conceder, pela graça, uma vida em plenitude. Se Cristo morreu na cruz foi para nos dar a possibilidade de vivermos uma vida completamente diferente da forma como o mundo vive, e nós somos chamados não apenas a gozar dessa vida neste mundo, mas também para dá-la a outros, como fez nosso Mestre.


Para finalizar, devo dizer que, para mim, a idéia de um caminho rumo à santidade e à perfeição cristã não somente faz completo sentido, mas se mostra cada vez mais como a pedagogia que o Pai utiliza para trazer-nos a Ele.
Com exceção das grandes conversões que, de uma maneira instantânea, pela graça de Deus, são capazes de causar uma virada na vida e caminhos de alguém (normalmente "peixes graúdos", como Padre Pio chamava os grande pecadores), para a maioria de nós, é através de pequenas conversões diárias e da "teimosia" que podemos chegar um dia à perfeição. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A Luz de Chiara

As vezes chega a ser engraçado a maneira com que a Providência de Deus encaminha as coisas na nossa vida, de um jeito inesperado, mas sempre certeiro e coerente.

Meses atrás, quando ainda estava no Brasil, comprei um livro na internet sobre um tema qualquer. Quando a encomenda chegou em casa, tive a boa surpresa de encontrar dois livros: um extra como presente da loja. Esse livro-presente chamou minha atenção, era o "25 minutos - A vida de Chiara Luce Badano", de Franz Coriasco. Me chamou a atenção porque já havia, alguns anos antes, lido um artigo sobre essa garota, recém beatificada pelo Papa Bento XVI, numa revista do Movimento dos Focolares na casa de minha avó. Seu nome havia me cativado: Chiara Luce (Clara Luz) e, por isso, guardei um pouco de sua história comigo.

Bom, semanas se passaram, arrumei minhas coisas e vim morar na Espanha. Comigo, trouxe alguns livros que ainda não tinha lido. E entre eles, o livrinho azul sobre Chiara que havia ganhado de presente.

Mas algo inesperado aconteceu ao chegar nesse novo país. Enquanto esperava a mesma acolhida que encontramos na Igreja no Brasil, o que encontrei na verdade foi a mais pura e simples secura e descaso com a Igreja. Encontrei um país que quase completamente se descristianizou, com Igrejas vazias, fechadas e tristes. O choque para mim, ainda dependente de laços humanos, foi grande e, por um breve momento, me vi perdida e sem rumo. Minha fé, até então baseada em estruturas terrenas, foi aos poucos desmantelando-se e já não podia sentir a presença de Deus ao meu redor, como até pouco tempo eu sentia. Por uma série de decepções seguidas, pouco ao pouco diminui meu passo, até caminhar na direção oposta do Pai.

Foi nesse momento, em que eu aos poucos me perdia, que Deus se mostrou presente na minha vida e revelou um plano que eu nem imaginava. Mas nada aconteceu de maneira mágica. Decidi não me deixar perder e insistir mesmo não sentindo nada. De maneira tranquila, resolvi não exigir de mim mesma nada superior às minhas forças e nem um sacrifício particularmente exigente. Mas simplesmente viver cada dia. 

Assim, ao completar a leitura de um livro, decidir escolher um novo da minha pequena "pilha de não-lidos" e me lembrei do "25 minutos". Comecei a lê-lo meio duvidosa do estilo do autor e com a insegurança em relação a certas narrativas que me é particular. Em geral, costumo ser bastante exigente com livros e filmes e me canso rapidamente de descrições lentas demais, piegas demais ou inventivas demais. 
Mas com esse livro não. Não que o estilo do autor seja impecável. Não que se trate de uma obra-prima da literatura. O que me tocou foi novamente aquela Clara Luz. A história dessa menina, do início ao fim, comove. 

E, de uma maneira providencial, exatamente para o propósito para o qual servem os santos, Chiara Luce me resgatou da minha estrada pessoal e me mostrou a beleza de ser cristão e a maravilha da santidade.

Sua vida foi permeada pelo Sagrado desde a mais tenra idade, sem nenhum acontecimento especial, simplesmente pelo Amor a Deus, com quem tinha um relacionamento muito íntimo, e ao próximo, pela referência moral sempre presente de seus pais, pela ternura, coerência nas ações, elegância no agir e carinho. 

Beata Chiara "Luce" Baldano
Num mundo onde o jovem é rapidamente inserido em estereótipos, ao olharmos a imagem de Chiara Baldano, podemos supor diversas coisas sobre sua vida, mas raros são aqueles que suporiam santidade. Após 17 anos de uma vida simples e sem nenhum acontecimento necessariamente espetacular, Chiara foi diagnosticada com um câncer raro e incurável. Foi a partir daí que sua santidade se mostrou clara para muitos. Se entregou de maneira heroica aos desígnios de Deus, oferecendo seus sofrimentos, que foram muitos, a diversas causas e pessoas, sempre com a serenidade e felicidade no olhar.
Não se tratava de resignação, mas de entrega completa a Deus e amor imenso ao próprio.

Após cerca de um ano e meio depois do diagnóstico, tempo do qual passou boa parte na cama, já sem o movimento das pernas, Chiara "Luce" Baldano faleceu, deixando uma legião de pessoas admiradas com sua certeza e coragem. Faleceu certa que encontraria o Paraíso após aquela Porta que chamamos de morte. 

Os detalhes e meandros de sua existência "pipocam" hoje em dia na internet (que nem existia à época de sua morte), cativando cada dia mais jovens e mostrando que a vida cristã perfeita é possível sim, mesmo nos dias de hoje. Chiara se foi para entrar na vida eterna em Outubro de 1990 e é, hoje para nós, uma intercessora que encontrou seu lugar junto do Pai e um exemplo de trajetória para todos nós. 

sábado, 19 de outubro de 2013

O problema dos estereótipos

"Para piorar ainda mais a questão, além de buscarmos preferencialmente as evidências que confirmam nossas noções preconcebidas, também interpretamos indícios ambíguos de modo a favorecerem nossas ideias; (...) assim, ignorando alguns padrões e enfatizando outros, nosso cérebro inteligente consegue reforçar suas crenças mesmo na ausência de dados convincentes."  

Em O Andar do Bêbado, o autor Leonard Mlodinow descreve brevemente uma reação psicológica do ser humano e sua influência na nossa interpretação do aleatório. Essa reação é o chamado viés da confirmação e é algo que, para mim, se torna cada vez mais claro.



Se a gente parar pra pensar, a gente estabelece estereótipos de muita coisa: das professoras de jardim de infância aos políticos brasileiros, dos famosos na televisão  aos mendigos na nossa rua. Para quase tudo a gente concebe uma idéia após alguns poucos dados.


Estereótipo é assim definido:
s.m. Comportamento desprovido de originalidade que, faltando adequação à situação presente, se caracteriza pela repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal.
Que se adapta ao padrão de uma normalidade já fixada.

Padrão estabelecido pelo senso comum (de um pensamento compartilhado) e baseado na ausência de conhecimento sobre o assunto em questão.

Concepção baseada em ideias preconcebidas de algo ou alguém, sem o seu conhecimento real, geralmente de cunho preconceituoso e/ou repleta de afirmações gerais, construída sobre inverdades.

Algo desprovido de originalidade e repleto de clichês.

E assim, sem muita originalidade e nos deixando levar pelo senso comum, formamos estereótipos do mundo que nos cerca.
Mas isso não necessariamente é uma coisa ruim. Os estereótipos muitas vezes nos ajudam a responder na ausência de novos dados. É como se nos protegessem de surpresas e facilitassem nossa interação com o mundo. 

O problema está quando mais que uma ferramenta ao nosso alcance, os estereótipos se tornam uma couraça sobre nós e nossas ideias, que dificilmente se desfaz. E aí o viés da confirmação se torna nossa pedra de tropeço e, se não nos damos conta dessa nossa tendência, acabamos por tomar decisões erradas.

O que mais tem me chamado atenção nesses últimos tempos, é o nosso esforço de encaixarmos as pessoas de culturas diversas da nossa nos nossos moldes estereotipados. Assim, quando conhecemos italianos, americanos e alemães, nos esforçamos por encontrar neles sinais que confirmem que, de fato, são alegres, nacionalistas e sérios em demasia, respectivamente, conforme sempre acreditamos.

"O viés da confirmação tem muitas conseqüências desagradáveis no mundo real. (...) quando as pessoas interpretam o comportamento de alguém que seja membro de uma minoria étnica, tendem a interpretá-lo no contexto de estereótipos preconcebidos." (O Andar do Bêbado).

Vivendo na Espanha, percebi que o contrário também é verdade. As pessoas gastam uma energia louca tendendo encontrar na gente as características que pensam que todo brasileiro possui: adorar um samba e um futebol. 

Mas estar concentrado em encontrar e confirmar padrões, nos impede de encontrar informações que nos permitam minimizar nossas conclusões falsas. Nos impede de conhecer de verdade as pessoas, suas histórias, suas características que são próprias delas e não de uma coletividade mais ou menos encaixada num molde. E isso é um desperdício do contato humano, não é não?

"Ainda assim, não precisamos ficar pessimistas, pois temos a capacidade de superar nossos preconceitos." Basta nos lembrarmos de abrirmos nossa cabeça para dados novos e aprendermos a questionar nossas próprias teorias.

domingo, 15 de setembro de 2013

A Aposta de Pascal

"(...) Pascal continuou produtivo. Nos anos que se seguiram ao transe, registrou suas idéias sobre Deus, a religião e a vida. Tais idéias foram posteriormente publicadas num livro chamado Pensamentos, um trabalho ainda editado hoje em dia. E embora Pascal tenha denunciado a matemática, em meio à sua visão da futilidade da vida mundana está uma exposição matemática na qual ele aponta a arma da probabilidade matemática diretamente para uma questão teológica (...)
O argumento de Pascal era o seguinte: partamos do pressuposto de que não sabemos se Deus existe ou não e, portanto, designemos uma probabilidade de 50% para cada proposição. Como devemos ponderar essas probabilidades ao decidirmos se devemos ou não levar uma vida pia? Se agirmos piamente e Deus existir, argumentou Pascal, nosso ganho - a felicidade eterna - será infinito. Se, por outro lado, Deus não existir, nossa perda, ou retorno negativo, será pequena - os sacrifícios da piedade. Para ponderar esses possíveis ganhos e perdas, propôs Pascal, multiplicamos a probabilidade de cada resultado possível por suas consequências e depois as somamos, formando uma espécie de consequência média ou esperada. Em outras palavras, a esperança matemática do retorno por nós obtido com a piedade é meio infinito (nosso ganho se Deus existir) menos a metade de um número pequeno (nossa perda se Deus não existir). Pascal entendia suficientemente o infinito para saber que a resposta a esse cálculo é infinita, e assim, o retorno esperado sobre a piedade é infinitamente positivo. Toda pessoa razoável, concluiu Pascal, deveria portanto seguir as leis de Deus."

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A pílula e o projeto de Deus

"(...) procurei por absurdos e inconsistências na fé católica que pudessem descarrilhar minhas ideias da inquietante conclusão à qual eu me dirigia, mas o irritante do catolicismo é sua coerência: uma vez que você aceita a estrutura básica de conceitos, todas as outras coisas se ajustam com uma rapidez incrível. 'Os mistérios cristãos são um todo indivisível', escreveu Edith Stein em 'A ciência da cruz'. 'Se entramos em um, somos levados a todos os outros'. A beleza e autenticidade até das mais aparentemente difíceis partes do catolicismo, como a moral sexual, se tornaram claras quando não eram mais vistas como uma lista descontextualizada de proibições, mas como componentes essenciais no corpo complexo do ensinamento da Igreja."
(Megan Hodder, jovem britânica ex-ateia que se converteu ao cristianismo após conhecer o pensamento do Papa Bento XVI, num testemunho sobre sua mudança de vida - leia aqui)

O texto acima é apenas uma parte de um testemunho de conversão de uma jovem britânica. Essa moça, chamada Megan Hodder, consegue expressar de uma forma muito bonita e clara a beleza da fé católica. Seu testemunho me tocou bastante. 

De fato, o trecho destacado foi aquele que mais me tocou e despertou em mim a vontade de falar um pouco sobre uma questão banalizada e uma realidade pouco discutida: o uso das pílulas anticoncepcionais.

Para muitas pessoas (inclusive eu, a algum tempo atrás), o uso de anticoncepcionais se trata basicamente de uma questão de escolha, de liberdade, de controle da própria vida. O que a gente nem suspeita, é que muita coisa está por trás da contracepção oral e nem tudo é colocado às claras para nós, mulheres, pelos médicos, amigos, mídia...

Pessoalmente, muita coisa mudou pra mim quando eu pude ler a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI. Na verdade, há algum tempo eu já havia tomado a (controversa) decisão de parar de tomar pílulas anticoncepcionais, com apenas alguns meses de casada. Mas a carta papal me ajudou a solidificar a minha decisão e fundamentá-la ainda mais. 

Mas do que trata a Humanae Vitae? Trata da vida humana, como o próprio o nome diz, e da participação do homem de forma maravilhosa no projeto da criação de Deus:

"O problema da natalidade, como de resto qualquer outro problema que diga respeito à vida humana, deve ser considerado numa perspectiva que transcenda as vistas parciais - sejam elas de ordem biológica, psicológica, demográfica ou sociológica - à luz da visão integral do homem e da sua vocação, não só natural e terrena, mas também sobrenatural e eterna. E, porque na tentativa de justificar os métodos artificiais de limitação dos nascimentos, houve muito quem fizesse apelo para as exigências, tanto do amor conjugal como de uma 'paternidade responsável', convém precisar bem a verdadeira concepção destas duas grandes realidades da vida matrimonial, (...)O amor conjugal exprime a sua verdadeira natureza e nobreza, quando se considera na sua fonte suprema, Deus que é Amor, 'o Pai, do qual toda a paternidade nos céus e na terra toma o nome'. O matrimônio não é, portanto, fruto do acaso, ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas."
"(...) pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher. Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade."

A partir das santas palavras do Papa Paulo VI, pude conhecer melhor algo que eu sempre soube, mas que por conveniência das minhas próprias vontades, escolhia por ignorar: a essência do sexo como ato de geração de vida. Mas isso é tão óbvio, porque a gente continua fazendo questão de tentar mudar? Porque o sexo, quando vivido de forma 'incorreta', é um daqueles "benefícios" de que eu falava em um post a algum tempo atrás.


"§2348 Todo batizado é chamado à castidade. O cristão se vestiu de Cristo, modelo de toda castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu específico estado de vida. No momento do Batismo, o cristão se comprometeu a viver sua afetividade na castidade.

§2349 A castidade há de distinguir as pessoas de acordo com seus diferentes estados de vida: umas na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar mais facilmente a Deus com um coração indiviso; outras, da maneira como a lei moral determina, conforme forem casados ou celibatários. As pessoas casadas são convidadas a viver a castidade conjugal; os outros praticam a castidade na continência:

Existem três formas da virtude da castidade: a primeira, dos esposos; a segunda, da viuvez; a terceira, da virgindade. Nós não louvamos uma delas excluindo as outras. Nisso a disciplina da Igreja é rica."

A falta de castidade, em qualquer de suas formas, é uma mentira que nos ensinam cada vez mais cedo. Para solteiros e casados, o sexo vivido de forma errada traz uma contraposição entre o que o corpo expressa e o que a alma experimenta: o corpo insinua uma entrega total, insinua um amor pleno, mas a alma revela a falta de compromisso e amor. Para viver a castidade é preciso que o cristão creia que é possível odiar o pecado e buscar a santidade. Mas para odiar esse pecado, essa mentira, precisamos abdicar de todos os benefícios que o pecado nos traz, entre eles o prazer, a sensação de liberdade, de auto-controle. Precisamos abdicar dos peixes, alhos e cebolas do nosso Egito, pois, ainda que nos pareçam apetitosos e tentadores, não queremos viver escravizados. (O lado "bom" da escravidão).

O mundo quer que vivamos escravizados, isso é verdade. E a pílula anticoncepcional exerce papel fundamental nessa trama: sem ela, o sexo livre seria difícil, não é mesmo? E é com ela, principalmente, que o fundamento principal do ato sexual como fonte da vida humana é deturpado.
Assim, para as mocinhas solteiras (como um dia eu mesma já fui) que acreditam que têm o direito de fazer do seu corpo o que bem entenderem e que virgindade é uma instituição opressora criada pela Igreja que já não faz sentido mais, ou para o jovem casal que, numa adolescência duradoura e resistência à maturidade, adiam indeterminadamente a paternidade, os anticoncepcionais surgem como a solução perfeita e milagrosa.

Mas toda essa posição e cultura atual tem que ser discutidas! O que parece liberdade é, hoje, uma ditadura. A ditadura do sexo casual e sem responsabilidade. 
"A Igreja Católica é frequentemente acusada de ser machista e castradora devido à sua posição firme em assuntos sexuais. Para os detratores da fé, a realidade do mundo moderno não comporta mais o radicalismo cristão, por isso, a pregação sobre a castidade não seria somente antiquada, mas inoportuna. Percebe-se, assim, um aumento progressivo no estímulo à sexualidade precoce, que já não poupa nem adolescentes, nem crianças. 
Sucede que as consequências desse tipo de mentalidade têm sido catastróficas. Não obstante o lobby da mídia e de empresas de marketing em cima de imagens pornográficas, os frutos do erotismo hodierno falam por si. Conforme denunciou o arcebispo de La Plata, Argentina, Dom Héctor Aguer, o sexo casual é uma fonte de estresse, sentimento de culpa, arrependimento e tristeza. As declarações foram feitas durante seu programa televisivo semanal, 'Chaves para um mundo melhor', e têm por base vários estudos de universidades americanas." (Risky Business: Is There an Association between Casual Sex and Mental Health among Emerging Adults?)

O beato Papa João Paulo II, em sua grande sabedoria, nos ensina na Encíclica Mulieris Dignitatem sobre o perigo da desvirtuação da finalidade do sexo: "A dignidade da mulher e a sua vocação — como, de resto, a do homem — encontram a sua vertente eterna no coração de Deus e, nas condições temporais da existência humana, estão estreitamente conexas com a 'unidade dos dois'. Por isso, cada homem deve olhar para dentro de si e ver se aquela que lhe é confiada como irmã na mesma humanidade, como esposa, não se tenha tornado objeto de adultério no seu coração; se aquela que, sob diversos aspectos, é o co-sujeito da sua existência no mundo, não se tenha tornado para ele 'objeto': objeto de prazer, de exploração." (Papa João Paulo II, na Mulieris Dignitatem).

Onde falta a castidade, abunda o egoísmo. Onde o egoísmo reina, chega-se, segundo as palavras do Papa, à transformação da mulher como objeto do homem. Não nos enganemos: ainda que a própria mulher se dê como objeto, por sua "livre" opção, ela não passará disso. 

Assim, de uma fonte de liberdade, a pílula se mostra, na verdade, como uma corrente que nos aprisiona. E tem aprisionado muitos homens e mulheres. Além de perda da sua dignidade, a maioria das mulheres que usam pílulas anticoncepcionais não sabem de uma outra horrível realidade que se esconde por trás desta prática: Abortos Ocultos, e é impressionante pensar que esse é um fato tão ignorado.

Você, mulher, que faz uso de anticoncepcionais, já tomou o tempo de ler a bula do seu medicamento e tentar entender o que ali está escrito? Façamos isso agora. Um anticoncepcional bastante usado é o Adoless®.
Na sua bula lê-se:
"(...) compr. ativos brancos com 0,015 mg de etinilestradiol e 0,060 mg de gestodeno (...). A associação gestodeno + etinilestradiol é um contraceptivo oral monofásico, que atua primariamente inibido a ovulação pela suspensão da liberação de gonadotrofina." Aqui a chave é a palavra primariamente. 
Um outro medicamento, de composição idêntica, fabricado por outro laboratório é o Minesse®.
A sua bula, mais detalhada, traz as seguintes informações: "Minesse® é um contraceptivo oral que combina 2 hormônios, o etinilestradiol e o gestodeno. Os contraceptivos orais combinados, que possuem 2 hormônios em sua composição, agem por supressão das gonadotrofinas, ou seja, pela inibição dos estímulos hormonais que levam à ovulação. Embora o resultado primário dessa ação seja a inibição da ovulação, outras alterações incluem mudanças no muco cervical (que aumenta a dificuldade de entrada do esperma no útero) e no endométrio (que reduz a probabilidade de implantação no endométrio)."

O que o primeiro laboratório esconde, o segundo revela de maneira mais honesta. Apesar do que nos é ensinado, as pílulas anticoncepcionais não previnem a gravidez simplesmente pela inibição à ovulação. Essa é sua atuação principal, mas pode acontecer sim de uma mulher, fazendo o uso desse tipo de hormônios, ovular. Mas o que acontece então? As alterações secundárias causadas pela associação de hormônios fazem com que, no caso da ovulação e da fecundação (a partir do ato sexual, obviamente), o embrião não consiga se implantar no endométrio e (pasmem) seja abortado!

Essa é uma realidade que, se fosse amplamente divulgada, faria com que muitas mulheres pensassem duas vezes antes de optar pela pílula anticoncepcional. Mas, intencionalmente ou não, ninguém traz à tona quando se fala das opção de contracepção.

Estamos tão habituados a achar tudo isso normal que não nos damos a oportunidade de pensar bem sobre o mal que fazemos aos nossos relacionamentos, nossa saúde, nossa alma, ao escolher pelo mais oportuno e prazeroso, sem considerar as consequências dessas nossas escolhas. 

Numa última visita médica de rotina, quando informei à doutora que não tomava nenhuma pílula anticoncepcional, ela ficou desconcertada e me avisou com o ar sério do risco iminente ao qual eu estava exposta de conceber um filho. (O que, diga-se de passagem, não é verdade. Quando necessária, a limitação do número de filhos pode ser feita com métodos naturais, muitas vezes mais eficazes que qualquer método artificial). Para aquela médica, assim como para muitas pessoas, nada mais normal que ceder a cada ímpeto humano, a cada desejo do corpo, e utilizar de toda ferramenta que o mundo coloca ao nosso dispor para isso. Cogitar o caminho mais difícil hoje é, de fato, desconcertante.

Por fim, voltando às palavras de Megan Hodder, se entramos em um mistério da Igreja como a sua posição frente aos métodos contraceptivos, vemos sua beleza e autenticidade e o entendemos, não mais como uma proibição descontextualizada e arcaica, mas como um componente essencial no corpo complexo do ensinamento da Igreja e fruto da visão da natureza do ser humano como parte do projeto divino.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Tema profundo servido em pratos rasos

Já tem muito tempo que eu não assisto novela. Os motivos são muitos, mas o principal é falta de interesse mesmo. De vez em quando, porém, eu fico sabendo de umas barbaridades que a Globo põe no ar que me dá um alívio gigante de não estar perdendo meu tempo com novela!
A mais recente aconteceu no último dia 23/08, quando foi ao ar a seguinte cena em Amor à Vida:




Aqui, me limito a reproduzir uma carta aberta publicada pelo Movimento Brasil Sem Aborto, direcionada à emissora:

Carta aberta à TV Globo
Autor: Brasil sem Aborto

Carta Aberta à TV Globo a respeito da abordagem  sobre aborto provocado na novela Amor à Vida.

Ilustríssimo Senhor,
Carlos Henrique Schroder
Diretor Geral da TV GLOBO

Em cena da novela “Amor à vida”, no capítulo 82 que foi ao ar no dia 23 de agosto, a Rede Globo entrou com extrema superficialidade e com inúmeros equívocos em debate que merece ser abordado com seriedade e fundamentação. Em evento desconectado do enredo, entra em debate o aborto provocado. O personagem de um médico, chefe da residência médica, afirma que “o aborto ilegal está entre as maiores causas de mortes de mulheres no Brasil”. E afirma também que “infelizmente o aborto ilegal se tornou caso de saúde pública”.

Vamos aos dados oficiais, disponíveis no DATASUS: faleceram no Brasil, em 2011 (último ano a ter os dados totalmente disponíveis) 504.415 mulheres. O número máximo de mortes maternas por aborto provocado, incluindo os casos não especificados, corresponde a 69, sendo uma delas aborto dito legal. Portanto, apenas 0,013% das mortes de mulheres devem-se a aborto ilegal. Comparando, 31,7% das mulheres morreram de doenças do aparelho circulatório e 17,03% de tumores. Estes sim constituem problemas de saúde pública.

Houve também clara confusão entre os conceitos de “omissão de socorro” e “objeção de consciência”, com laivos de intolerância à liberdade religiosa. Desconhecemos que alguma religião impeça seus membros de prestar socorro a “pecadores”. Se assim fosse, inúmeros assaltantes e assassinos que chegam baleados aos hospitais ficariam sem atendimento. Se até um bandido assassino que foi ferido no embate tem direito a atendimento médico, como caberia negá-lo em situações de sequelas do aborto? A cena foi preconceituosa para com as crenças do outro personagem médico, distorcendo-as. Ela parece mesmo pretender trazer confusão para a questão da objeção de consciência, situação em que o profissional de saúde se recusa licitamente a realizar ou participar do abortamento, uma vez que ele se forma para proteger a vida e não para tirá-la.

Sabedores da influência que as novelas possuem na mentalidade do povo, demandamos que haja uma retratação das falsas impressões apresentadas, pois uma emissora deve ter compromisso com a realidade dos fatos. Se a Rede Globo deseja problematizar o debate, que o faça a partir de dados e situações verazes e não apenas reproduza determinados jargões propagandísticos pela legalização do aborto em nosso país.

Brasilia, 23 de Agosto de 2013.

Lenise Garcia
Presidente Nacional

Jaime Ferreira Lopes
Vice-Presidente Nacional Executivo

Damares Alves
Secretária Geral


E agora? Quem está na poltrona na frente da TV pensa o que?





quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"Tudo que convém a Deus por natureza, convém a Maria por graça..."


"She's here for us. She brings us here."
(Ela está aqui para nós. Ela nos traz aqui.)

Essa frase, que me inspirou a escrever hoje, escutei de um peregrino em Medjugorje, em um documentário. Com essa profissão de fé, ele descrevia a mudança completa na sua vida que se seguiu à sua ida a essa pequena vila no interior da Bósnia-Herzegovina. Tal mudança não teve motivo outro que não Maria. 


Medjugorje é uma grande declaração de amor de Nossa Senhora por nós.
Mas que fique claro, as aparições de Maria não são dogmas de fé. Ninguém é obrigado a acreditar em nenhum dos diversos relatos de aparição de Nossa Senhora se não se impelido a isso. O Catecismo da Igreja afirma no número 67: “No decurso dos séculos tem havido revelações ditas 'privadas', algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é 'aperfeiçoar' ou 'completar' a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar 'revelações' que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de certas religiões não-cristãs, e também de certas seitas recentes. fundadas sobre tais 'revelações'”.

Segundo o blog Últimas e Derradeiras Graças, existem registros de 71 aparições de Nossa Senhora ao redor do mundo. Dentre essas, 22 foram reconhecidas pelo Vaticano, 20 não foram oficialmente reconhecidas pelo Vaticano, mas foram aprovadas por Papas, Bispos ou Cardeais, e 29 não são ainda aprovadas pelo Vaticano, mas foram reconhecidas pelos fiéis leigos. (derradeirasgracas.com)
Dentre as aparições reconhecidas por Papas, está a(s) de Medjugorje, reconhecida tanto pelo Bem-Aventurado João Paulo II, quanto por Bento XVI. 

Como eu já disse antes, ninguém é obrigado a acreditar em aparição alguma. Mas, ah se o mundo soubesse da(s) maravilha(s) que se passam naquele cantinho do mundo!


Medjugorje - Bósnia-Herzegovina
Eu sei que no mundo de hoje a gente precisa de fatos para convencer as pessoas de alguma coisa, mas o fato que eu tenho hoje é o meu amor. 
Aprendi a conhecer Maria através de um livrinho maravilhoso (que nem sei se ainda é vendido): Fátima, Aurora do Terceiro Milênio, de João Clá Dias. Nele, o autor faz uma afirmação que mudou a minha vida: O amor de todas as mães do mundo pelos seus filhos, somado, é infinitamente inferior ao amor de mãe Maria por um só de seus filhos. 

E é por isso que eu digo que Medjugorje é uma declaração de amor. Nossa Mãe do céu, demonstrando um amor gigante por nós, se manifesta inicialmente a 6 jovens iugoslavos para nos transmitir importantes mensagens de conversão, e vem se manifestando a 32 anos a humanidade inteira naquele lugar.
E essas mensagens são fonte de muito aprendizado, crescimento e AMOR, muito amor. 

Por muito tempo, eu fui o que São Luis Maria Grignon descreve no seu livro Tratado sobre a Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem como sendo o "Devoto Escrupuloso". O Devoto Escrupuloso é aquele que não se entrega a Maria, com medo que qualquer devoção à Maria o possa desviar de qualquer devoção à Cristo.
Mas como eu estava errada!
A Glória de Maria, que vem de Deus, não diminui em nada a Glória do Pai. Pelo contrário! Maria é a criatura perfeita, que mais amou, que mais adorou, que mais obedeceu a Deus. E tendo encontrado Graça diante Dele, foi Lhe dado participar da Sua Glória antes do fim dos tempos, antes de todos nós.
Maria, ainda que criatura (não nos esqueçamos disso), foi Aquela a quem Deus recorreu para completar os Seus planos de salvação para a humanidade. Deus não precisava de Maria (afinal, Ele é Deus!), mas Ele quis precisar. Ele quis, através daquela mocinha que tanto O amava, enviar o Seu Filho Redentor para o mundo. E assim, A encheu de Graças.
E aquela mocinha, nada mais que uma criatura, foi a responsável pela geração e criação de um Deus feito Homem: Jesus. Jesus que, mesmo sendo Deus, A foi obediente e submisso! Que mistério maravilhoso é esse! Pensar no amor gigante de Cristo por Maria que o levou a ser submisso a essa Mulher.
Quem sou eu para fazer diferente? Quem sou eu para não imitar as ações de Jesus?
Só o que eu posso fazer é, como Ele, amar muito Maria e ser fiel e obendiente à Ela. E, hoje, eu o faço na certeza que minha devoção à Santíssima Virgem de modo algum me afasta de Jesus, mas me aproxima cada vez mais Dele.
E como Maria, pela vontade do Pai, uma vez gerou o Cristo para o mundo, minha esperança é que ela a cada dia mais gere Cristo em mim e na minha vida.

Por fim, encerro com uma reflexão acerca da Perda e Encontro de Jesus no Templo em Jerusalém, que meditamos no 5o mistério Gozoso:


"Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição. Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" (Lucas 2, 42-49)

Maria foi uma mãe devotíssima ao seu Filho amado. Imagine a preocupação que deve ter inundado o coração Dela ao perceber que Ele não estava na comitiva que voltava a Nazaré!  Mas imagine também o alívio e a imensa alegria que tomou conta do Seu ser ao reencontrá-lo em Jerusalém!
Penso que hoje o coração de Maria sofre de preocupação ao ver-nos "perdidos". Como mãe que ama imensamente seus filhos (mais que todas mães já amaram todos os filhos da Terra), ela deve estar constantemente aflita e receosa por nós, pelos caminhos errados nos quais nós temos andado.
Mas penso também que a cada filho que ela "encontra", todo o Seu ser se enche de paz e tranquilidade. E sei que para Ela, não há alegria maior do que a de reencontrar seus filhos "ocupados com as coisas de Seu Pai."