quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Caminhos e mais caminhos...

Depois de algumas semanas na minha casa nova na Espanha, depois de colocar os móveis e os sentimentos no lugar, percebi que algo de muito importante faltava no nosso apartamento: um crucifixo.

Que espécie de Cristã sou eu sem um crucifixo para me lembrar do maior sacrifício da história humana? Sem uma cruz na mesa, na parede, no quarto ou na sala, me fazendo recordar e agradecer pelo milagre da nossa redenção?

Bom, depois de descobrir onde se podia encontrar artigos religiosos em Barcelona, me dirigi à loja do Apostolado Litúrgico (Via Laietana, 46.A, Barcelona, Tel: +34 932 680 449), onde encontrei um crucifixo maravilhoso, do jeito que eu queria.
Na cruz vê-se, aos pés de Jesus, a graciosa figura de Nossa Senhora. Além disso, em cada canto, tem-se um dos quatro seres viventes do Apocalipse.

Cruz Neocatecumenal - Cruz Gloriosa 
A senhora que me atendeu, se apressou em assegurar que eu soubesse do que se tratava: era a cruz do Caminho Neocatecumenal (chamada Cruz Gloriosa), de Kiko Argüello. Como de costume, aquelas palavras ficaram quietinhas na minha cabeça até hoje, quando contemplando aquela linda cruz dourada, resolvi pesquisar o que era o tal caminho e quem era o tal Kiko.

O Caminho Neocatecumenal foi definido Papa João Paulo II como "um itinerário de formação católica, válida para a sociedade e para os tempos de hoje”. Trata-se de um instrumento das paróquias a serviço dos Bispos, para iniciar, renovar e amadurecer na fé tantas pessoas que se encontram longe da Igreja. O nome Neocatecumenal faz alusão à Igreja Primitiva, quando aqueles interessados em se tornarem cristãos e receber o batismo, os chamados catecúmenos, deviam percorrer um caminho de preparação e transformação de vida até estarem prontos para serem batizados e entrarem na Igreja de Cristo.

O Caminho começou por obra de Kiko Argúello e Carmen Hernandez, na década de 1960, em Palomeras Alta, uma das favelas mais pobres de Madri, na Espanha. Na mesma época, o Caminho foi confirmado e apoiado pelo então Arcebispo de Madri, Casimiro Morcillo, que constatou, na primeira comunidade de Palomeras, uma verdadeira redescoberta da Palavra de Deus e uma concretização da renovação litúrgica, então fomentada pelo Concílio Vaticano II e em resposta às demandas criadas por ele.

O Caminho Neocatecumenal nada mais é que um caminho de conversão em que é possível redescobrir as riquezas do Evangelho. 

Em 1964, Francisco (Kiko) Argüello, um pintor nascido em León (Espanha), e Carmen Hernández, licenciada em Química e formada no Instituto Missionárias de Cristo Jesus, encontram-se entre os favelados de Palomeras Altas, na periferia de Madri. Três anos depois, neste ambiente composto sobretudo de pobres, forma-se uma síntese kerigmático–catequética que, sustentada pela Palavra de Deus, pela Liturgia e pela experiência comunitária, e sobre a trilha do Concílio Vaticano II, tornar-se-á a base daquilo que o Caminho Neocatecumenal levará a todo o mundo.

Hoje, o caminho neocatecumenal se encontra difundido em mais de 100 países, incluindo alguns que não são tradicionalmente cristãos como China, Egito, Coréia do Sul e Japão, como um itinerário de formação cristã, cujo objetivo consiste em abrir um caminho espiritual concreto de iniciação, renovação e valorização do sacramento batismal, que permita ao "catecúmeno" descobrir o significado concreto de ser cristão. 

No site do Caminho, há um trecho de um testemunho do seu fundador muito bonito, que eu transcrevo aqui:
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AS ORIGENS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL 

Extrato do testemunho de Kiko 

"... Tinha um estúdio de pintor vizinho à Praça de Espanha em Madrid, e era comum passar as festas natalícias com os meus pais. Um ano, fui para casa para celebrar o Natal, entrei na cozinha e vi a cozinheira que estava chorando. Eu lhe pergunto: “Berta – assim se chamava – que lhe acontece?” e ela me disse que o marido é um beberrão, que quer matar o filho, que o filho se rebelou contra... Contou-me uma história que me deixou assustado. E escutei de Deus de ajudá-la. 

Fui ver onde morava: uma barraca horrível, em meio a tantas outras. A pobre mulher se levantava muito cedo, para ir trabalhar; tinha nove filhos, e era casada com um homem coxo e estrábico, sempre bêbado. Batia nos filhos com um bastão gritando a eles: “Defende o teu pai” e, às vezes, bêbado, urinava sobre as filhas. Essa mulher, bastante bonita, apesar de ter idade, me contou coisas alucinantes. 

Tomei aquele homem e o levei a fazer um “Cursilho de Cristandade”. Ficou impressionadíssimo ao escutar-me falar. Por alguns meses, deixou de beber, mas depois recomeçou e começaram de novo as bagunças. A mulher me chamava: “Senhor Kiko, venha, por favor, porque meu marido quer matar a todos. Chame a polícia!”. Não me deixavam viver. Por fim, pensei: “E se Deus me estivesse dizendo de deixar tudo e de ir viver ali para ajudá-los?”. Deixei tudo e fui viver com aquela família. Dormia numa pequeníssima cozinha, que estava cheia de gatos. 

Vivi ali e fiquei muito impressionado, vos digo a verdade, de todo o ambiente. Havia muita gente que estava vivendo em situações terríveis. Não sei se conhecem o livro de Camus, “A peste”, que afronta o problema do sofrimento dos inocentes. Aquela mulher, Berta, me contou que seu marido, coxo, para vingar-se das tantas humilhações recebidas, tinha dito a todos que se casaria com ela, que era a moça mais bonita do quarteirão. Todos riam dele. Mas, sabeis como ele a desposou? Apontando-lhe uma faca no pescoço e dizendo-lhe: “Se não te casas comigo, corto a garganta do teu pai”. E o teria feito. Seu pai era viúvo e ela era só e terrivelmente tímida e medrosa. 

Perguntei-me: que pecados cometeu esta pobre mulher para merecer uma vida assim? Por que não eu? E não havia só ela. Havia uma outra mulher perto que tinha a doença de Parkinson, o marido a tinha abandonado e vivia pedindo esmola. E um outro. E um outro ainda. Diante de tudo isto existe só duas respostas. Conhecem a frase famosa de Nietzsche: “Ou Deus é bom e não pode fazer nada para ajudar essa pobre gente, ou Deus pode ajudá-los e não o faz, e então é mau”. Esta frase é venenosa. Pode Deus ajudar aquela mulher, ou não? Por que não faz? 

Nesta situação, tive uma surpresa. Sabeis que coisa vi ali? Não aquilo que diz Nietzsche, se Deus pode ou não pode, mas vi Cristo crucificado. Vi Cristo em Berta, naquela mulher com o Parkinson, naquele outro. Vi um mistério. O mistério da cruz de Cristo. Fiquei enormemente surpreso, o digo sinceramente. 

Depois me chamaram para o serviço militar e me mandaram à África. Quando tornei, disse a mim mesmo: se amanhã volta Cristo sobre a terra na sua segunda vinda, eu não sei que coisa sucederá neste mundo, mas sabem onde desejo que Jesus Cristo me encontre? Aos pés de Cristo crucificado. E onde está Cristo crucificado? Naqueles que estão levando o sofrimento maior, as conseqüências dos pecados de todos. Diz Sartre: “Ai do homem que o dedo de Deus esmague contra o muro”. Eu vi ali gente esmagada contra o muro, tantos fracos esmagados pelas conseqüências do pecado, fracos, anônimos cirineus. 

Quando alguém vai viver entre os pobres, ou perde a fé e se torna guerrilheiro a la “Che Guevara” ou se põe em silêncio diante de Cristo e se santifica. Eu sou grato ao Senhor por ter tido piedade de mim: eu vi ali Cristo crucificado e assim quando voltei da África, e conheci a irmã de Carmen, pensei que era necessário descer nas catacumbas sociais e ali pregar o Evangelho a esta gente, ajudá-los, dar a eles uma palavra de consolação. E assim formamos um grupo que se dedicava aos homossexuais, às prostitutas e aos outros marginalizados. 

Charles de Foucauld me deu a fórmula: viver em silêncio, como Jesus em Nazaré, aos pés de Jesus Cristo em meio àquela gente. Conheci um assistente social que me indicou uma zona de Palomeras Altas onde havia uma barraca de tábuas de madeira, refúgio de cães. Disse-me: “Põe-te ali e não te preocupes”. E ali teve início um pouco tudo. Nas barracas, eu queria viver como Charles de Foucauld, em contemplação: assim como alguém fica diante da Eucaristia, aos pés da presença real, única de Cristo; eu queria estar aos pés de Cristo crucificado, nas pessoas mais pobres, miseráveis. 

O Senhor me levou ali com este espírito: eu era o último. Eles eram Cristo. Talvez alguém teria podido dizer-me: “Kiko! Ajuda-os”. Aqui há um ponto muito importante para aqueles que sabem ir a fundo nas coisas. “Mas como? Tu te pões em adoração, quando esta gente está morta de fome? Dá a eles de comer”. Eu não tinha nada, não havia levado outra coisa além de uma Bíblia e um violão, dormia sobre um colchão posto sobre a terra nua. Não tinha outra coisa. 

Tinha lido em um livro alguma coisa que me tinha marcado muito do tempo dos nazistas. Contava-se um fato histórico acontecido no campo de concentração de Auschwitz. Um chefe da Gestapo tinha se dado conta das atrocidades que estavam cometendo no genocídio dos hebreus. Um dia, durante uma inspeção em um campo, viu passar uma coluna de homens e mulheres em direção às câmaras de gás. Sentiu no seu coração uma grande dor. Perguntou-se: “Que devo fazer eu agora para ajudá-los, para ter paz comigo mesmo?”. Sabeis a resposta que recebeu desde dentro? (Os Padres da Igreja falam do Cristo falante, dentro de você. É alguma coisa de muito profundo). O livro contava que aquilo que sentiu que deveria fazer era de desnudar-se também ele e por-se em fila com eles. 

Isto tem valor? Aquilo que se deve dar é só a ajuda social? Talvez o homem é só comer? O homem tem necessidade de saber se Deus existe ou não existe, se o amor existe ou não? Eu não fui às barracas para dar de comer, nem para ensinar a ler. (Eram todos analfabetos, com exceção de um ou dois: José Agudo, que esteve em um instituto de correção sabia ler, mas sua mulher não. Ciganos, “quinquis”, rapazes do cárcere sabiam ler com dificuldade). Fui ali e, se quereis saber, nem mesmo pensava de pregar, sabeis de fato que os Pequenos Irmãos de Foucauld estão “em silêncio”. Queria dar testemunho vivendo em meio a eles como Jesus em Nazaré. 

E que aconteceu? Aquilo que sempre acontece. O vizinho, um dia que fazia um frio do cão, porque era inverno e nevava – eu me esquentava com os cães errantes que viviam comigo – entrou improvisadamente e me disse: “Te trouxe um braseiro porque estás morrendo de frio!”. 

Pouco a pouco se aproximavam e perguntavam: “Quem é este que está aqui, com barba e violão?”. Para alguns era um que tinha feito um voto, para outros um protestante, porque levava sempre a Bíblia. Os ciganos vinham pelo violão... Não sabiam quem eu era. José Agudo, que então estava em briga com outro clã de “quinquis”, se aproximou de mim para perguntar-me o que dizia o Evangelho sobre o fato de bater-se. Eu lhe li o Sermão da Montanha que diz de não resistir ao mal e ficou com a boca aberta: “Como? Mas se não me defendo, me mata! Que devo fazer?”. Dei-lhe para ler os “Florilégio de São Franscisco” que o impressionaram muito e não me deixou mais. 

Bem, nao me ponho a contar-vos estas histórias porque se tornaria muito longo..."
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Mas e a Cruz Gloriosa? 

Dentro da pedagogia do Caminho Neocatecumenal existe um cuidado muito especial para com os sinais. Todos eles devem ser para o espectador um reflexo do amor de Deus pelo homem. Não se pode, portanto, subestimar o valor e o significado de alguns elementos das nossas celebrações - e a cruz é um deles. 

A Cruz Gloriosa foi desenhada pelo fundador do Caminho, Kiko Argüello que, como artista, dotou a cruz de todo um significado catequético: 

O pé da base da cruz tem uma forma muita característica. Ali aparecem três figuras curvas simétricas. Uma das extremidades de uma das figuras tem a forma de uma cabeça de um animal semelhante a uma águia, com um bico. Essa figura disforme e "quase-animalesca" representa o demônio. Em toda a tradição iconográfica cristã, as representações pouco definidas de animais simbolizam o mal, entendida como caos, escuridão, trevas, desordem. Essas três figuras de animais pouco definidas recordam a sinuosidade do diabo, que, condenado a rastejar no pó (Gn 3:14), tenta o homem com toda a sua astúcia a romper com Deus, para que seja ele, e nenhum outro, o deus de si mesmo. 

A cruz erguida sobre essa base que representa o mal, simboliza e anuncia a vitória da vida sobre a morte, da verdade sobre a mentira. Assim, a "Cruz Gloriosa", que se eleva sobre essa base que simboliza o mal reproduz a vitória de Cristo sobre a morte e sua elevação. 

Aos pés da cruz está a Virgem Maria, pilar da Igreja. Ali, nos convida a imitar a Cristo, a não nos chocar e a não fugir do sofrimento. A Virgem, entre o mundo (representado pela bola da base) e Cristo, é nossa intercessora. Vela por nós e nos leva a seu Filho. Como nas bodas de Caná, convida-nos a fazer o que ele nos diz, para obedecê-lo e segui-lo. Ela é a cristã perfeita, a primeira mártir que, longe de escandalizar-se, assume a responsabilidade pelo "fruto do seu ventre", mostrando-nos o caminho. 

Ela é a imagem da Igreja, que nos acompanha no nosso caminho, enquanto estamos no mundo, e mostra-nos como se apegar a cruz e não fugir, como amar sem medidas e não odiar, como perdoar com o coração e não culpar. Sem a Virgem, o sofrimento da cruz não pode ser compreendido. Ela, aceitando a vontade de Deus, nos encoraja, mesmo sem sentido, a não negar o Seu amor e esperar no Seu Nome. Assim, Maria está presente nesta cruz, porque sem ela jamais poderíamos chegar ao conhecimento da verdade, e ver a cruz como Gloriosa.

A cruz tem em seus quatro cantos quatro animais, que são os quatro seres viventes do Apocalipse (Leão, Águia, Touro e Homem), tradicionalmente associados com os quatro evangelistas. Estes quatro símbolos, chamados tetramorfos, estão nos quatro cantos, representando os quatro pontos cardeais onde chega o anúncio do Evangelho, isto é, a todas as nações.
O leão seria Marcos, porque seu Evangelho começa com a pregação de João Batista, que cumpriu a profecia de Isaías: "Uma voz clama no deserto : Preparai o caminho do Senhor , endireitai as suas veredas". O touro seria Mateus porque seu Evangelho começa com a genealogia de Jesus. O "rosto humano" (representado na iconografia sagrada como um anjo) é Lucas, com o Evangelho da Anunciação, e que enfatiza a humanidade de Jesus. Finalmente, a águia representa João, já que seu Evangelho começa da altura sublime da Divindade do Logos e "caminha para baixo" em círculos até a humanidade. 

A cruz, por fim, tem a forma de um anzol, porque Deus, através da cruz de seu Filho resgata suas criaturas, nós, homens, de seu ambiente natural, água (imagem da morte) para conceder, pela graça, uma vida em plenitude. Se Cristo morreu na cruz foi para nos dar a possibilidade de vivermos uma vida completamente diferente da forma como o mundo vive, e nós somos chamados não apenas a gozar dessa vida neste mundo, mas também para dá-la a outros, como fez nosso Mestre.


Para finalizar, devo dizer que, para mim, a idéia de um caminho rumo à santidade e à perfeição cristã não somente faz completo sentido, mas se mostra cada vez mais como a pedagogia que o Pai utiliza para trazer-nos a Ele.
Com exceção das grandes conversões que, de uma maneira instantânea, pela graça de Deus, são capazes de causar uma virada na vida e caminhos de alguém (normalmente "peixes graúdos", como Padre Pio chamava os grande pecadores), para a maioria de nós, é através de pequenas conversões diárias e da "teimosia" que podemos chegar um dia à perfeição. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A Luz de Chiara

As vezes chega a ser engraçado a maneira com que a Providência de Deus encaminha as coisas na nossa vida, de um jeito inesperado, mas sempre certeiro e coerente.

Meses atrás, quando ainda estava no Brasil, comprei um livro na internet sobre um tema qualquer. Quando a encomenda chegou em casa, tive a boa surpresa de encontrar dois livros: um extra como presente da loja. Esse livro-presente chamou minha atenção, era o "25 minutos - A vida de Chiara Luce Badano", de Franz Coriasco. Me chamou a atenção porque já havia, alguns anos antes, lido um artigo sobre essa garota, recém beatificada pelo Papa Bento XVI, numa revista do Movimento dos Focolares na casa de minha avó. Seu nome havia me cativado: Chiara Luce (Clara Luz) e, por isso, guardei um pouco de sua história comigo.

Bom, semanas se passaram, arrumei minhas coisas e vim morar na Espanha. Comigo, trouxe alguns livros que ainda não tinha lido. E entre eles, o livrinho azul sobre Chiara que havia ganhado de presente.

Mas algo inesperado aconteceu ao chegar nesse novo país. Enquanto esperava a mesma acolhida que encontramos na Igreja no Brasil, o que encontrei na verdade foi a mais pura e simples secura e descaso com a Igreja. Encontrei um país que quase completamente se descristianizou, com Igrejas vazias, fechadas e tristes. O choque para mim, ainda dependente de laços humanos, foi grande e, por um breve momento, me vi perdida e sem rumo. Minha fé, até então baseada em estruturas terrenas, foi aos poucos desmantelando-se e já não podia sentir a presença de Deus ao meu redor, como até pouco tempo eu sentia. Por uma série de decepções seguidas, pouco ao pouco diminui meu passo, até caminhar na direção oposta do Pai.

Foi nesse momento, em que eu aos poucos me perdia, que Deus se mostrou presente na minha vida e revelou um plano que eu nem imaginava. Mas nada aconteceu de maneira mágica. Decidi não me deixar perder e insistir mesmo não sentindo nada. De maneira tranquila, resolvi não exigir de mim mesma nada superior às minhas forças e nem um sacrifício particularmente exigente. Mas simplesmente viver cada dia. 

Assim, ao completar a leitura de um livro, decidir escolher um novo da minha pequena "pilha de não-lidos" e me lembrei do "25 minutos". Comecei a lê-lo meio duvidosa do estilo do autor e com a insegurança em relação a certas narrativas que me é particular. Em geral, costumo ser bastante exigente com livros e filmes e me canso rapidamente de descrições lentas demais, piegas demais ou inventivas demais. 
Mas com esse livro não. Não que o estilo do autor seja impecável. Não que se trate de uma obra-prima da literatura. O que me tocou foi novamente aquela Clara Luz. A história dessa menina, do início ao fim, comove. 

E, de uma maneira providencial, exatamente para o propósito para o qual servem os santos, Chiara Luce me resgatou da minha estrada pessoal e me mostrou a beleza de ser cristão e a maravilha da santidade.

Sua vida foi permeada pelo Sagrado desde a mais tenra idade, sem nenhum acontecimento especial, simplesmente pelo Amor a Deus, com quem tinha um relacionamento muito íntimo, e ao próximo, pela referência moral sempre presente de seus pais, pela ternura, coerência nas ações, elegância no agir e carinho. 

Beata Chiara "Luce" Baldano
Num mundo onde o jovem é rapidamente inserido em estereótipos, ao olharmos a imagem de Chiara Baldano, podemos supor diversas coisas sobre sua vida, mas raros são aqueles que suporiam santidade. Após 17 anos de uma vida simples e sem nenhum acontecimento necessariamente espetacular, Chiara foi diagnosticada com um câncer raro e incurável. Foi a partir daí que sua santidade se mostrou clara para muitos. Se entregou de maneira heroica aos desígnios de Deus, oferecendo seus sofrimentos, que foram muitos, a diversas causas e pessoas, sempre com a serenidade e felicidade no olhar.
Não se tratava de resignação, mas de entrega completa a Deus e amor imenso ao próprio.

Após cerca de um ano e meio depois do diagnóstico, tempo do qual passou boa parte na cama, já sem o movimento das pernas, Chiara "Luce" Baldano faleceu, deixando uma legião de pessoas admiradas com sua certeza e coragem. Faleceu certa que encontraria o Paraíso após aquela Porta que chamamos de morte. 

Os detalhes e meandros de sua existência "pipocam" hoje em dia na internet (que nem existia à época de sua morte), cativando cada dia mais jovens e mostrando que a vida cristã perfeita é possível sim, mesmo nos dias de hoje. Chiara se foi para entrar na vida eterna em Outubro de 1990 e é, hoje para nós, uma intercessora que encontrou seu lugar junto do Pai e um exemplo de trajetória para todos nós.