terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A intercessão dos santos

Na primeira vez que estive em Lisboa, fiquei surpresa em descobrir que o querido Santo Antônio de Pádua na verdade foi primeiro Santo Antônio de Lisboa! Conheci uma linda igrejinha construida sobre a casa onde esse grande evangelizador da Igreja nasceu e tive a oportunidade de rezar diante de uma de suas relíquias. 
Hoje, de volta a essa maravilhosa capital portuguesa, cidade natal de um dos maiores santos da história, aproveito para fazer conhecer a todos o que a Igreja Católica ensina sobre a intercessão dos santos, nessa aula do Padre Paulo Ricardo:

Se a Sagrada Escritura nos diz que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens por que nós, católicos, rezamos aos santos e uns pelos outros? Padre Paulo Ricardo nos dá a resposta para esta pergunta e ainda nos mostra que a intercessão é um costume na Igreja desde o tempo das Catacumbas.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Teologia sem Deus e o frei polêmico de BH

Chamou-me a atenção pois vivia bem perto dessa igreja em BH e cheguei a frequenta-la algumas vezes quando mudei para o bairro.

Neste fim de semana, o resultado:

O frei não só não foi afastado, como sua volta fez o número de fiéis dobrar!

Fiquei extremamente triste ao ler essa notícia. Por vários motivos. Mas o principal é a falta de informação e de comunhão desses fiéis com a Igreja.

Logo quando fui à paróquia Nossa Senhora do Carmo pela primeira vez, percebi que "uma coisa estranha" acontecia ali. A missa não era a mesma. A liturgia havia sido completamente alterada, mas ainda permaneci por ali por algum tempo. Até que, em um sermão de domingo, o Frei Cláudio afirmou que Cristo nunca condenou o divórcio e que apenas pedia que "o que Deus uniu, o homem faça o possível para não separar". Àquela época eu não sabia muito sobre o ensinamento da Igreja, apenas o básico como muitos católicos. Mas sabia sim que essa história de divórcio não estava certa. Resolvi mudar de paróquia para não endossar esse tipo de ensinamento.

Bom, os anos passaram. Vivo hoje na Espanha e estudo bastante o catecismo da Igreja, sua teologia, seus ensinamentos. E essas notícias sobre a minha antiga paróquia chocaram meu coração e me entristeceram bastante.

Quando a gente estuda o assunto, não é difícil ver a militância do frei Cláudio em relação à Teologia da Libertação e isso é algo muito grave.



O problema é que as pessoas têm uma ideia errada do que é essa ideologia e aderem muito facilmente a ela e aos seus pregadores.

Normalmente, quando alguém fala de Teologia da Libertação, o que as pessoas pensam é em Leonardo Boff ou frei Beto, pobres injustiçados pela hierarquia burguesa da Igreja. Eles se dizem perseguidos, excomungados injustamente. E muita gente de fato crê que suas excomunhões foram injustas. 

Mas não! A Teologia da Libertação é um mal muito grande, que tem corroído a Igreja por dentro, afastando as pessoas da verdadeira comunhão católica e, por consequencia, da verdade de Cristo.

Vamos entender:

Para compreendermos a teologia da libertação, precisamos entender as suas bases ideológicas: o marxismo e o marxismo cultural.

Para Marx, a Teologia e a Religião faziam parte de uma "superestrutura" opressiva. Eram, por assim dizer, "invenções", fenômenos irreais, e, por isso, patológicos. 
Quando Marx afirmava que "a religião é o ópio do povo", o dizia por um motivo básico: enquanto fonte de esperança escatológica, ou seja, de esperança no além-vida, a religião impede que os indivíduos lutem pela sociedade perfeita aqui na terra (meta última do Socialismo - o paraiso na terra).

Com base nessa certeza, o Stalinismo e o Leninismo abordaram o problema pela via política e legal, tentando abolir a religião à força, proibindo manifestações de fé e o culto a qualquer divindade.

Com a queda do muro de Berlim e o fim do Comunismo como sistema econômico, a luta se concentrou no plano ideológico, apoiando-se nas produções filosóficas da Escola de Frankfurt e Gramsci.
A conquista da sociedade perfeita, o paraiso na terra, não seria conseguida pela via da força como Stalin e Lenin pensavam. A sociedade perfeita seria atingida pela via da revolução cultural, da remodelação da sociedade. A derrota das suas estruturas burguesas que a sustentavam até então seria feita pouco a pouco, pela substituição de seus valores. Assim, entendeu-se que o fim da religião (o ópio do povo - um dos pilares burgueses opressores) não seria conseguido pela proibição, mas pela sua remodelação. 
E é aí que nasce a "Teologia" da Libertação.

Podemos dizer, então, que a "Teologia" da Libertação é o "plano B" do Marxismo. É o "Se você não pode vencê-los, junte-se a eles". É a transformação da natureza da Igreja, transformando-a em algo mais compatível com a revolução. 

Mas porque o cristianismo? Porque não existe uma Teologia da Libertação Hindu, ou Budista, ou Xaoísta? Será que eu estou sendo paranóica? Afinal, a TL parece algo honesto, pregando a igualdade, a inclusão, a caridade com o pobre, etc.
Mas acontece que o buraco é bem mais em baixo. 

O cristianismo, de maneira geral, é particular na sua teologia e seu esforço de conciliar aparentes paradoxos através de nossa limitada razão humana.
De acordo com a filosofia cristã (bem como a filosofia clássica de Aristóteles e Platão), o sentido da história, da nossa vida, deve estar na meta-história. Os grande filósofos gregos já entendiam que o sentido de cada coisa está fora dessa coisa. Assim, por exemplo, o sentido de uma caneta não está nela própria e, sim, no uso que fazemos dela: escrever. Portanto, o sentido da história não pode estar na história mesma, deve estar na transcedência: no além-vida.

No lado oposto da filosofia cristã está o existencialismo, por exemplo, que, ao negar completamente o transcedente, chega a conclusão de que a vida não possui sentido algum e só o que há é desespero, náusea e caos.

O Marxismo e a "teologia" da libertação se encontram no meio termo desses dois opostos. O que essa ideologia faz é "empurrar", "adiar" o sentido do hoje. Assim, para eles, o sentido do hoje está no amanhã. O sentido da nossa vida é a sociedade perfeita, o paraíso na terra. 
A TL nega a transcendência, imanentizando o cristianismo. Transfere nossa esperança do reino dos céus para o paraiso da terra, chamado por eles de "reino de Deus". Traz para a história (lembremos: o futuro ainda é parte da história) o que nós esperamos para além da história. 
Assim, podemos dizer que a TL é a aplicação religiosa do Marxismo. É a religião a serviço do partido, que arrebanha os cristãos para sua causa, a luta de classes, a luta pela sociedade perfeita. Pois, como Marx pensava, enquanto os indivíduos continuarem colocando suas esperanças no além-vida, eles deixarãm de lutar pela sociedade perfeita, sem classes, aqui na terra, deixarãm de cumprir seus papéis na revolução.

Mas porque a "Teologia" da Libertação está errada? 
Esse pensamente não somente é desonesto do ponto de vista filosófico, mas contraria o cerne do cristianismo e o ensinamento da Igreja. 
Somente a meta-história soluciona o problema da busca de sentido para a vida. Pois, ainda que "empurremos" para o amanhã o sentido do hoje, que sentido terá o amanhã? Que sentido terá a sociedade perfeita? O sentido da história deve estar no transcedente!
O cristianismo é aqui um alvo importante do pensamento marxista pois, para nós, o transcendente, o logos, irrompeu a história a mais de 2000 anos atrás, se fez carne e habitou entre nós. Pela Encarnação, o que para os filósofos clássicos era inatingível, tornou-se tangível para a humanidade.

Assim, fez-se necessária uma "teologia" que permitisse uma releitura das verdades transcendentes em chave imanente, ou seja, uma "teologia" (mais bem ideologia), que desmentisse o que é dito pela fé cristã se tratar se transcendência, esvaziar de conteúdo transcendente a nossa fé, permitindo aos "fiéis" esperar pelo paraíso aqui na terra e não por esse "paraíso fictício inventado aos longo da história e pregado desonestamente por essa Igreja alienante". E é exatamente isso o que a "Teologia" da Libertação faz: é uma ideologia a serviço de uma engenharia social.

Como cristãos, porque devemos fugir da TL?
Porque, ao esvaziar nossa fé de toda sua transcendencia, nega aspectos básicos como a divindade de Cristo e a nossa Redenção pela sua morte de Cruz.
Como católicos, porque devemos fugir da TL?
Igualmente, para tornar nossa fé compatível com a imanentização marxista, nega pontos chaves de nossa fé: a presença real de Cristo na Eucaristia e seus milagres.

Por fim, peço que oremos juntos para que a Igreja posse se ver livre da "Teologia" da Libertação e para que os Padres que rezam por essa cartilha marxista compreendam o erro de suas convicções filosóficas. Rezemos para que a luz do Espírito Santo brilhe sobre eles e possam ver a verdade contida no Tradição e nas Escrituras.

Padres, como o frei Cláudio, não merecem nosso Ibope, e sim nossa oração piedosa.

Conto com vocês!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Establishment é outro e ninguém percebeu

Lia-se hoje no facebook de alguém:

"Para a Rachel Sheherazade, a agressão, pelos ~justiceiros~ do Flamengo, de um adolescente acusado (por quem?) de roubo (de quê?), é "justificada". Afinal, o "marginalzinho" teria a "ficha mais suja do que pau de galinheiro". Já quando o assunto é Justin Bieber, a reação da apresentadora é um pouquinho diferente: o "menino prodígio", que agrediu repórteres e pichou muros durante sua visita ao Brasil, está em "fase de crescimento", é a "síndrome da adolescência". "Atire a primeira pedra quem nunca se perdeu de si mesmo", diz Rachel. E finaliza, com um sorrisinho maternal cheio de compreensão: "peguem leve com o Justin, o menino está só crescendo". Ganha uma bala quem conseguir me explicar essa mudança. A tal história de que "isso não tem nada a ver com racismo e classe social" ainda se sustenta?"

http://www.youtube.com/watch?v=dI2enm6JB9g

Eu explico e exijo minha bala.

As pessoas são tão focadas em ver em tudo sinal de bipolaridade que se esquecem de olhar as coisas pelo que elas realmente são.
Comparar Justin Bieber com um adolescente como esse menino, vai além de olhar para as cores de suas peles e suas classes sociais e tal comparação é incorreta (não preciso nem falar que também injustiça).
Eles são fruto de dois problemas completamente distintos e Rachel Sherazade, como uma mulher brasileira inteligente, compreende isso mais que qualquer petista de plantão.
Justin Bieber, longe de ser exemplo de conduta pelas suas recentes aventuras, sofre de um mal que atinge milhões de adolescentes mundo afora: falta de limites, excesso de liberdades. Desde cedo foi privado (por escolha própria ou não) da convivência da familia, de uma educacação normal. Seu problema? Pura e simples falta de educação, exarcebada por uma adolescencia conturbada e um excesso de atenção da mídia.

A criminalidade crescente no Brasil já é outra história....
Não existe comparação entre os dois garotos apresentados e colocar os comentários lado-a-lado é injusto e uma tentativa baixa de desmoralizar Rachel Sherazade (como a esquerda no Brasil sempre faz com os dissidentes).

Falar que um menor acaba indo pro o mundo do crime por razões de racismo ou elitismo é ser simplório e, honestamente, idiota demais para o meu gosto.
Num país onde a educação pública não existe, onde o paternalismo já virou doença, onde a moral não existe em lugar nenhum, a crítica feita pela repórter faz todo sentido. Sua posição, crítica voraz de um governo que deixa o seu país mergulhar cada dia mais na própria lama de insegurança, deve ser vista pelo o que ela realmente é: um apelo para uma mudança urgente nesse estado de quase-guerra em que vive o povo brasileiro.

E termino: posso ver mais amor no seu comentário ao jovem brasileiro, seu conterrâneo, que na sua opinião em relação ao cantor americano. Quanto ao este, percebemos que a apresentadora se importa tão significantemente menos por ele que volta seu apelo mais à mídia que o critica que ao próprio adolescente.
Rachel Sherazade é brasileira, e reclama por um pais onde meninos (de qualquer cor) não sejam mais "vítimas" de justiceiros, já que estarão nas escolas, nos parques, nos campos de futebol. Reclama por um país que não precisará mais de justiceiros, pois a polícia será eficiente e respeitada. Reclama por um país onde toda crime será punido e nós tenhamos orgulho de um governo que não assiste à sua juventude se perdendo no crime de braços cruzados.

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Mariologia na Redemptoris Mater de João Paulo II - parte 5

Nas páginas finais do seu livro, Cándido Pozo expõe um importante tema em relação à devoção mariana, também presente na Redemptoris Mater, e que possui notáveis implicações ecumênicas: a mediação de Maria, que em sua essência está inserida na Mediação única do Cristo e nos leva a Ele.16

(Disponibilizo aqui o capítulo na íntegra: Mariologia na Redemptoris Mater; conclusão do livro "Maria, nueva Eva" de Cándido Pozo)

c) Mediação materna de Maria



Maria, assunta em corpo e alma aos céus, está espiritualmente presente na Igreja graças a sua permanente intercessão diante de seu filho ressuscitado, isto é, por sua mediação intercessora. Na Igreja, Maria é invocada com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro e também Mediadora. O conhecido texto de São Paulo que afirma que há “somente um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, também homem” (1 Tim 2,5), não é obscurecido ao manter uma mediação de Maria11, “que é apoiada na mediação de Jesus, depende totalmente dela e é de onde provém todo seu poder.” A mediação de Maria é uma mediação participada da de Cristo e que, por isso, nada tira nem soma “à dignidade e eficácia de Cristo, único mediador”. Neste contexto, o Papa recorda a fórmula de São Bernardo “Mediadora ao Mediador”, porque põe em relevo a subordinação da mediação de Maria à de Cristo.
Esta subordinação implica também uma união às intenções de Cristo. A mediação de Maria, “dotada certamente de uma índole ‘subordinada’, participa da universalidade da mediação do Redentor, único Mediador’.
É bem sabido que depois da definição da Imaculada difundiu-se fortemente na Igreja a certeza de que a verdade mariana que em um futuro próximo se definiria na Igreja como dogma seria a Mediação universal. Desta certeza surgiu todo um movimento a favor desta definição, a frente do qual se situava o cardeal D. Mercier. Neste tempo e neste ambiente surgem obras tão apreciáveis e clássicas como a famosa monografia de J. Bittremieux (De mediatione universali Beatae Mariae Virginis quoad gratias). De fato, em um determinado momento este impulso perde força e se vê desbancado por outro que se adianta e leva à definição dogmática de outra verdade mariana: a Assunção corporal de Maria (1 de novembro de 1950).
Talvez seja mais interessante ressaltar o que provavelmente impediu o primeiro destes dois movimentos de chegar à sua meta: a dificuldade em determinar claramente o que se pretendia dizer ao afirmar que Maria é mediadora universal de todas as Graças; ou, com outras palavras, a dificuldade em demonstrar a especificidade de Maria em sua intercessão, comparada com a dos santos.
De fato, tem-se a impressão de que, ainda que quando se diz que Maria é mediadora universal de todas as graças parece se afirmar muito d’Ela, na realidade, com esta expressão não se distingue suficientemente sua mediação da dos santos. Não se esqueça que o grande tema do Apocalipse é o da liturgia celeste. No centro dessa liturgia está o “Cordeiro, como que imolado” (Ap 5,6)12. Trata-se de Cristo que, tendo subido ao céu, apresenta ao Pai o seu sangue (cf. Heb 9,12.24-26), isto é, que, ao longo da história, oferecendo ao Pai sua entrega e seu sacrifício pretéritos, “está sempre vivo para interceder” por nós (Heb 7,25). Então, nesta liturgia celeste participam todos os bem-aventurados e nela se unem a todas as intenções pelas quais Cristo morreu e pelas quais agora, ressuscitado e sentado à direita do Pai, intercede (cf. Rom 8,34). Neste sentido, na colação de todas as graças que Deus concede intervêm todos os bem-aventurados, isto é, todos intercedem por todas as graças que são concedidas. Se levarmos em conta essa realidade, a singularidade da mediação de Maria não fica suficientemente evidenciada quando se diz que ela é “universal”. Tal adjetivo não parece ser bastante específico, já que todos os bem-aventurados intervêm na colação de todas as graças e, a partir deste ponto de vista, também a mediação dos santos pode ser qualificada como “universal”.
João Paulo II indica uma pista teológica que pode ser sumamente fecunda para mantermos com nitidez a singularidade da mediação de Maria, comparada com a dos santos:

 “Efetivamente, a mediação de Maria está intimamente unida a sua maternidade e possui um caráter especificamente materno que a distingue daquela das demais criaturas que, de modo diverso e sempre subordinado, participam da mediação única de Cristo”.

Maria é Mãe de Cristo e mãe dos discípulos. Tem uma relação materna tanto com respeito a Cristo como com respeito aos discípulos. Por isso, em sua intercessão, Maria “se coloca ‘em meio’, ou seja, faz-se mediadora não como uma pessoa estranha, mas em seu papel de mãe, consciente de que como tal pode – melhor, ‘tem direito de’ – fazer presentes ao Filho as necessidades dos homens”. Deste modo, dentro das mediações subordinadas à de Cristo, o único Mediador, demonstra-se uma característica específica da mediação intercessora de Maria, que se dá n’Ela e somente n’Ela, isto é, uma característica que não se dá na mediação de nenhum dos santos: é uma mediação materna não somente porque Maria é Mãe de Cristo diante do qual intercede (“Mediadora ao Mediador”), mas também porque é Mãe daqueles por cujos problemas intercede (“Mãe dos viventes”).

d) Maria nos leva a Cristo

O recurso à mediação de Maria não nos distancia de Cristo, mas nos leva a Ele. Ela nos conduz ao próprio Cristo como “Mediadora ao Mediador”. Este fato deve traduzir-se em nossa atitude de oração: o recurso à intercessão de Maria deve terminar em um contato espiritual com o Mediador e por Ele chegar ao Pai.
A articulação que de Maria conduz a Jesus é própria de toda devoção mariana. Uma vez mais, João Paulo II insiste em que “pode-se afirmar que Maria segue repetindo a todos as mesmas palavras que disse em Caná na Galiléia: ‘Fazei o que Ele vos disser’”19. Em toda forma autêntica e correta de devoção mariana, Maria nos remete a Jesus como sua razão de ser e como fim ao qual Ela, com sua solicitude materna, quer nos levar. “Mostrai-nos Jesus”, pedimos na mais popular oração a Maria depois da “Ave-Maria”, na “Salve Rainha”.

O próprio fato de se consagrar a Maria não pode se esquecer deste sentido de “Mediadora ao Mediador” que tem a figura da Virgem possui. Assim diz expressamente o Papa a propósito da consagração de escravidão mariana segundo a doutrina de São Luis Maria Grignon de Montfort. João Paulo II, especialista nessa espiritualidade por sua vivência pessoal, afirma que, na escravidão mariana, São Luis Maria Grignon de Montfort “propunha aos cristãos a consagração a Cristo pelas mãos de Maria, como meio eficaz para vivermos fielmente o compromisso do batismo”. Estas palavras são de suma importância. Lembram-nos que a consagração primária é a batismal; que toda consagração batismal é um compromisso de assumir umas determinadas atitudes espirituais para viver as exigências do batismo até as últimas conseqüências; e que as consagrações a Maria tomam-na como caminho até Cristo e, neste sentido, têm Cristo como fim. 


[16] Cf. POZO, C., “María, nueva Eva.”, BAC, Madrid 2005, p. 423-427.
[17] 1 Tim 2,5 afirma que há um mediador único, isto é, o mesmo e inevitável para todos, mas não trata de se esta mediação é ou não compatível com a existência de mediadores subordinados.
[18] “Eu vi no meio do trono, dos quatro Animais e no meio dos Anciãos um Cordeiro de pé, como que imolado. Tinha ele sete chifres e sete olhos {que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra}.” (Ap 5:6)
[19] O texto citado é de Jo 2,5. Este pensamento foi expresso outras vezes por João Paulo II; basta ser citado aqui sua Alocución en el acto mariano nacional celebrado en la plaza Eduardo Ibarra, de Zaragoza 4: AAS 75 (1983) 309-310.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Mariologia na Redemptoris Mater de João Paulo II - parte 4

Na segunda parte do capítulo que trata de Encíclica Redemptoris Mater do Papa João Paulo II, no seu livro “Maria, nueva Eva”, Cándido Pozo passa à análise da maternidade de Maria em relação à Igreja e aos cristãos, tornando a teologia do Papa sobre o tema ainda mais acessível13:

1.         O testamento da Cruz



A passagem de Jo 19,25-27 tem sido objeto de atenta reflexão por parte dos exegetas e mariológos. Por múltiplas razões, está fora de toda dúvida razoável que não nos é relatado nela uma cena meramente familiar (Jesus moribundo, preocupada com a solidão futura de sua Mãe, a confiaria a um amigo), mas sim uma cena de alcance teológico na qual Jesus proclama Maria como mãe do discípulo, de todo discípulo, enquanto incute em todo discípulo que conseqüentemente olhe para Maria como mãe. A partir desta convicção acerca de qual é a verdadeira exegese destes versículos, costuma-se designar a cena como “a proclamação da maternidade espiritual de Maria”.
Tudo isso é muito certo. Entretanto, João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Mater, chama esta passagem com um novo nome sumamente sugestivo, que pode ser muito útil para uma vivência renovada do que Jesus quis nos dizer nela: “o testamento da Cruz”. Jesus, como todo moribundo, se preocupa em legar. A partir da cruz, nos lega o que de mais precioso possui na terra, a sua Mãe. Este é o sentido último das solenes e profundas palavras de Jesus crucificado: “Jesus, vendo sua Mãe e junto a ela o discípulo que ele amava, disse a sua Mãe: ‘Mulher, eis aí o teu filho’. Logo disse ao discípulo: ‘Eis aí a tua Mãe’” (Jo 19,26-27).
É conhecido que o pensamento filosófico de Karol Wojtyla está fortemente impregnado de um personalismo são. Isso lhe faz não se esquecer que, no momento em que Jesus pronuncia essas palavras, não está simplesmente morrendo pela salvação da humanidade em abstrato, mas pela salvação de cada pessoa em particular. São Paulo, que aos Efésios escreve: “Cristo nos amou e se entregou por nós“ (Ef 5,2) ou “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25), tem em sua carta aos Gálatas a expressão mais absolutamente pessoal: “Amou-me e se entregou por mim” (Gál 2,20). O fato de sua doação total em concreto por cada um tem, sem dúvidas, que refletir-se na própria consciência humana de Jesus. Porque as palavras do “testamento da cruz” são pronunciadas nesse precioso momento em que a Redenção está se realizando, “a Mãe de Cristo, encontrando-se no campo direto deste mistério que abarca o homem – a cada um e a todos -, é entregue ao homem – a cada um e a todos – como Mãe”. Isso implica que não podemos contentar-nos com ver nessas palavras de Jesus moribundo uma proclamação da maternidade espiritual de Maria sobre todos os fiéis; é um testamento em que concretamente me é dada Maria como minha Mãe.

a)         A acolhida do discípulo

Um testamento tem que ser aceito. O “testamento da cruz”, enquanto que é dirigido a cada um em particular, e não somente aos fiéis em geral, tem que ser aceito por cada um de nós. “A partir daquela hora o discípulo a acolheu entre suas coisas” (Jo 19,27); desde aquela hora todo discípulo, para ser um bom discípulo, tem que aceitar o testamento e tomar Maria como coisa sua.
São João assinalou, outras vezes, diversas qualidade que tem de reunir o discípulo de Jesus para o ser realmente: tem que guardar seus mandamentos (Jo 14,14.21.23), partindo de um amor a Deus (1 Jo 5,2); os discípulos têm que amar-se mutuamente como Cristo os amou (Jo 13,35;15,12); têm que crer que Jesus foi enviado por Deus (Jo 17,8) e que é o Filho de Deus (Jo 20,31); têm que adotar uma atitude de humildade e serviço, seguindo o exemplo do Mestre (Jo 13,13-17). Em Jo 19,2714 é anunciada é nota subseqüente que o discípulo deve possuir: deve ter Maria como coisa sua; entre suas estruturas espirituais deve haver uma dimensão mariana que o faça acolher (λαβεν não significa “olhar”, mas “tomar” ou “acolher”) Maria como Mãe.  A palavra “acolher” implica assim todo um comportamento filial com respeito à Maria. “Entregando-se filialmente a Maria, o cristão, como o apostólo João, ‘acolhe entre as suas coisas’ a Mãe de Cristo e a introduz em todo o espaço de sua vida interior, isto é, em seu eu humano e cristão”.
A tradução mais comum do texto de Jo 19,27 (“acolheu-a em sua casa”) não faz jus à riqueza contida nessa passagem. A Encíclica crê insuficiente esse modo de traduzir:

“Como é bem sabido, no texto em grego a expressão ες τ δια supera o limite de uma acolhida de Maria por parte do discípulo no sentido do mero alojamento material e da hospitalidade em sua casa; expressa melhor uma comunhão de vida que se estabelece entre os dois com base nas palavras do Cristo agonizante”.

A Encíclica confirma essa posição com um belo texto de Santo Agostinho: “Tomou-a consigo, não entre sua herança, porque não possuía nada próprio, mas entre suas obrigações que realiza com senso de urgência. I. de La Potterie capta perfeitamente o sentido do versículo quando propões traduzi-lo como: “A partir daquela hora, o discípulo a acolheu em sua intimidade”.15
 No conjunto de reflexões que gravitam sobre a afirmação mesma de Jo 19,27 (“A partir daquela hora, o discípulo a acolheu entre suas coisas”), aparece claramente, em primeiro lugar, que a devoção mariana constitui uma dimensão irrenunciável do discípulo de Jesus, desde o momento em que o Senhor proclamou seu testamento, até o fim dos tempos. Compreende-se, por isso, a frase de Paulo VI em sua homilia no Santuário de Nossa Senhora de Bonaria em 24 de Abril de 1970: “se queremos ser cristãos, devemos ser marianos”. Com essas palavras, Paulo VI não anunciava um pensamento piedoso, mas que se limitava estritamente a traduzir Jo 19,27: desde então todo discípulo de Jesus, para ser-lo, deve ter uma profunda dimensão mariana.
Em segundo ligar, a devoção mariana, por expressar-se em uma relação mútua entre mãe e filho, tem ressonâncias de total intimidade pessoal. “É essencial à maternidade a referência à pessoa. A maternidade determina sempre uma relação única e irreproduzível entre duas pessoas: a da mãe com o filho e a do filho com a mãe. Ainda que a uma mesma mulher seja mãe de muitos filhos, sua relação pessoal com cada um deles caracteriza a maternidade em sua própria essência. De fato, cada filho é gerado de um modo único e irreproduzível, e isto vale tanto para a mãe como para o filho. Cada filho é rodeado do mesmo modo por aquele amor materno, sobre o qual se baseia sua formação e amadurecimento na humanidade”. Pois então, isto que aparece com claridade “na ordem da natureza” é também verdadeiro por analogia “na ordem da graça”. Por isso, a afirmação da Encíclica de que Maria é dada como mãe particularmente a cada discípulo, ilumina ulteriormente o sentido da resposta a este dom que é exigida em Jo 19,27: “A partir daquela hora, o discípulo a acolheu entre suas coisas”. Esta “afirmação indica, ainda que indiretamente, o que a relação íntima de um filho com sua mãe expressa. E tudo isso se encerra na palavra ‘entrega’. A entrega é a resposta ao amor de uma pessoa e, concretamente, ao amor da mãe”. A devoção mariana de todo discípulo deve chegar até a entrega filial a “Aquela que é a sua Mãe”.

b)         A Anunciação e a espera de Pentecostes



Encerra uma consideração sumamente importante original e profunda a afirmação do Papa na Encíclica de que “na economia da graça, atuada pela ação do Espírito Santo, dá-se uma particular correspondência entre o momento da Encarnação do Verbo e o do nascimento da Igreja. A pessoa que une estes dois momentos é Maria: Maria em Nazaré e Maria no cenáculo de Jerusalém”. Na realidade, Maria concebe a Jesus pela obra do Espírito Santo. A Igreja recebe também a vida pelo dom do Espírito Santo impetrado pela intercessão materna de Maria. Este paralelismo é lógico, já que a Igreja, como corpo místico de Cristo, é prolongação d’Ele. Poder-se-ia dizer, portanto, que, tanto para que Jesus nasça como para que nasça a Igreja (no sentido de que começa a ter a vida da graça que o Espírito Santo a comunica), os dois protagonistas são sempre os mesmos: Maria e o Espírito Santo.
Assim, Maria esteve presente – como mãe, tinha que estar – no momento em que a Igreja começa o caminho da fé, ou seja, quando é inaugurada “a peregrinação da Igreja através da história dos homens e dos povos”. Por isso se encontra no meio dos apóstolos no cenáculo “implorando com seus pedidos o dom do Espírito”. Por certo, trata-se do Espírito “que na Anunciação já havia coberto a ela com a sua sombra”.
Ulteriormente, Maria tem que estar presente na posterior ação evangelizadora da Igreja. “Também em sua obra apostólica com razão a Igreja olha para aquela que gerou a Cristo, concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem, precisamente para que pela Igreja nasça e cresça também nos corações dos fiéis”. Este olhar à Mãe de Cristo surge espontaneamente, se se tem em conta o sentido maternal da ação apostólica da Igreja. São Paulo o expressou de modo vigoroso ao escrever: “Filhinho meus, por quem sofro de novo dores de parto, até ver Cristo formado em vós!” (Gál 4,19). Neste ponto, “a Igreja se encontra com Maria e tenta assemelhar-se a ela”. Neste sentido, “Maria está presente no mistério da Igreja como modelo”. Mas Maria é muito mais para a Igreja: “A maternidade de Igreja é levada a cabo não somente segundo o modelo e a figura de Mãe de Deus, mas também com sua ‘cooperação’”. Aquela que com sua oração obteve em Pentecostes o dom do Espírito, assunta em corpo e alma ao céu, mediante sua intercessão, “com materno amor coopera incessantemente com a geração e educação” dos filhos e filhas da mãe Igreja.
A presença de Maria na vida da Igreja é inegável e, com certeza, possui um peso decisivo. Ela reuniu em torno de si as famílias cristãs que o Concílio Vaticano II chama de “igrejas domésticas”, durante séculos com a oração do terço, em que com os olhos de Maria se contemplam suavemente, enquanto são debulhadas as “Ave-Marias”, os mistérios fundamentais da nossa salvação. Desgraçadamente, o costume do terço em família decaiu de modo bastante notável. Vale a pena exortar as famílias cristãs a que, pelo o menos em ocasiões específicas, recuperem este costume cheio de valores cristãos. A imagem ou o quadro da Virgem, que não deve faltar no lar de nenhuma família católica, deve ser ponto de referência a alguma oração familiar, ainda que breve, à Mãe do Senhor. Maria também está presente nas comunidades paroquiais, em cujos templos sua imagem sempre possui um lugar destacado. Teremos que procurar vivificar um culto sério a ela. A presença de Maria é patente nos institutos religiosos, muitos dos quais levam seu nome inclusive em seu título oficial. Está igualmente presente nas dioceses, nenhuma das quais carece de um grande santuário mariano.
O Papa se detém para enfatizar a importância dessa “geografia” mariana, cujas virtualidades pastorais temos que aproveitar ao máximo. Os grandes santuários de influxo internacional exercem uma ação de atração espiritual incalculável. Guadalupe do México, Lourdes ou Fátima são centos de espiritualidade aos quais acodem multidões de fiéis de diversos países, que se sentem atraídos pela Virgem e que aos seus pés encontram a Cristo: os fiéis nestes santuários não passam espontaneamente a uma reconciliação, cheia de arrependimento e conversão, no sacramento do perdão e uma gozosa recepção na Eucaristia? A nível nacional, não podemos nos esquecer da eficácia dos grandes santuários da Virgem existentes nas diversas regiões. Devemos potenciar esse influxo para contribuir assim com uma renovação espiritual dos nossos fiéis.
Nestes santuários, veneremos imagens de Maria, algumas delas rodeadas do carinho de milhares e milhares de fiéis durantes séculos Não desvalorizemos o culto às imagens. Precisamente no mesmo ano em que João Paulo II publicava sua Encíclica Redemptoris Mater (1987), celebrava-se “o 12° centenário do II Concílio ecumênico de Nicea (a. 787), no qual, ao final da controvérsia sobre o culto às imagens sagradas, foi definido que, segundo o ensinamento da Igreja, podiam-se propor à veneração dos fiéis, junto com a Cruz, também as imagens da Mãe de Deus, dos Anjos e dos Santos, tanto nas igrejas como nas casas e nos caminhos”



[13] Cf. POZO, C., “María, nueva Eva.”, BAC, Madrid 2005, p. 416-423.


[15] “’Et à partir de cette heure, Le Disciple l’accueillit dans son intimité’ (Jn 19,27b). Réflexions méthodologiques sur l’interprétation d’um verset johannique”: Mar 42 (1980) 84-125

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Somos todos mendigos

Apenas alguns meses atrás, um amigo meu da arquidiocese de Nova York foi a Roma por uma semana. Ele participava de uma Conferência e no último dia dessa Conferência, depois do almoço, ele foi até uma paróquia para fazer a sua oração da tarde. Enquanto ele subia as escadas, passou por meia-dúzia de mendigos, que são comuns em Roma nas paróquias, mas enquanto ele atravessava as portas, pensou ter reconhecido um dos mendigos.
Sentou-se, tentou rezar, mas ele estava muito distraído. Ele voltou e disse em italiano:
- Eu te conheço?
O cara olhou para cima e disse:
- Sim. Nós fomos para o seminário e ordenados aqui em Roma juntos.
- O que aconteceu? - ele perguntou.
E o mendigo, em seguida respondeu:
- Nem me pergunte! Eu acabei com minha vida! Deixe-me em paz!
- Oh, não! Vou rezar por você! – o padre respondeu.
Naquele momento, ele percebeu que já estava atrasado para a última reunião da Conferência em São Pedro e por isso correu para lá. Naquela tarde, no final da Conferência, os participantes tiveram a chance de se encontrar com João Paulo II para compartilhar seus resultados da Conferência.
Nessas reuniões privadas, cada pessoa tem a chance de subir até o Papa, beijar seu anel, pegar o rosário com seu secretário e dizer algo como "Obrigado", "Eu te amo", "Eu rezo por você" ou "' seja o que for’, Santo Padre", e, em seguida, o próximo na linha vem para frente.
Este sacerdote estava tão tomado pelo que ele tinha acabado de encontrar que, quando ele foi beijar o anel do Papa, disse:
- Eu amo você, ore por meu amigo!
E ele acabou contanto tudo o que tinha acontecido.
Depois que ele deixou a reunião, voltou para a paróquia, para ver se o seu velho amigo ainda estava lá. Apenas dois ou três restavam ali, mas um deles era ele. Enquanto caminhava até ele, o padre disse:
- Acabei de encontrar com o papa e ele está orando por você
O mendigo então disse, com um sorriso cínico no rosto:
- Ah, sim, isso vai resolver meus problemas!
Mas o padre respondeu:
- Isso não é tudo! Ele e o seu secretário expediram um convite para nós dois nos juntarmos a eles para jantar no apartamento papal hoje à noite!
- Sem chance! Olhe para mim! Eu não tenho roupas; não estou limpo como você!
- Você não entende! Você é o meu bilhete, se eu não levá-lo, eu não entro! Eu tenho um quarto de hotel, você pode tomar banho e eu tenho roupas que vão servir!
Então, com relutância, esse mendigo seguiu o sacerdote que o levou para dentro. Ele tomou banho, fez a barba e vestiu-se.
Mais tarde naquele dia, estavam do lado de fora das portas de bronze. A Guarda Suíça deixou-os entrar às 7 horas e eles subiram as escadas de mármore. O secretário do papa estava esperando por eles do lado de fora do apartamento e levou-os para dentro. Quando entraram, o Papa já estava sentado, eles se cumprimentaram, sentaram-se e começaram a conversar.
O primeiro prato, o segundo, e em seguida o prato principal foram servidos. Após o prato principal, o Papa continuou ficou olhando para o padre e fazendo um sinal com a mão. O padre não entendeu, mas o secretário do papa sim. Ele se levantou e disse:
- Vamos lá para fora.
E assim, eles caminharam para o corredor e o padre virou-se para o secretário e disse :
- O que está acontecendo lá dentro?
- Nunca se sabe - o secretário do bispo respondeu.
Eles ficaram lá fora por 3, 4, 5 minutos. Era mais do que 10 minutos depois quando algum sinal foi ouvido e secretário do bispo abriu a porta. Eles entraram e sentaram-se. O local estava em silêncio. Depois que trouxeram a sobremesa, eles comeram, trocaram suas despedidas e saíram noite a fora.
Quando finalmente chegaram à Praça de São Pedro do lado de fora, o padre virou-se para o mendigo e disse:
- O que aconteceu lá?
E o mendigo respondeu:
- Eu não acho que você iria acreditar em mim.
- Bem, experimente - disse o sacerdote.
E ele disse:
- Assim que você saiu, o Papa apertou minha mão e disse: "Padre, você ouviria a minha confissão?
- Ele disse isso a você?
- Isso mesmo!
- O que você disse?
- O que eu poderia dizer? "Eu sou um mendigo!”
- O que ele disse?
- Ele olhou nos meus olhos e responder: " Eu também!" . Então eu continuei: "Mas, Vossa Santidade, eu não sou um sacerdote mais." Ele usou então a frase italiana que diz: "Uma vez padre, sempre padre". "Mas eu não estou em comunhão com a Igreja!" – respondi. Ele então me assegurou que, como Bispo de Roma, ele poderia me restabelecer, naquele lugar e naquele momento, com o meu consentimento. Como eu poderia não dar tal consentimento? Então eu disse que sim.
- E você ouviu a confissão do Papa?
- É. E ele teve que me ajudar com as palavras de absolvição porque tinha passado muito tempo desde a última vez que eu havia confessado alguém!
- Uau! - E então, o sacerdote acrescentou: - Nós ficamos lá fora por mais de 10 minutos. Realmente tomou o Papa tanto tempo para confessar?
E então o mendigo disse:

- Não. Quando ele terminou, eu caí de joelhos e implorei para que ele ouvisse a minha confissão. Foi isso que tomou a maior parte daquele tempo! E antes que você voltasse, ele me perguntou onde tinha me encontrado. Eu disse a ele o nome da paróquia e ele me deu o meu primeiro trabalho como padre novamente. Ele disse: "Eu quero que você vá para aquele bairro e eu quero que você alcance todos os nossos companheiros “mendigos” com a graça da reconciliação, porque é isso que todos nós somos! Somos todos mendigos que Deus adotou e tomou por Seus filhos e filhas!"


* Trecho da pregação de Scott Hahn, importante escritor, teólogo e apologista católico norte-americano, sobre o Sacramento da Confissão.