sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A pílula e o projeto de Deus

"(...) procurei por absurdos e inconsistências na fé católica que pudessem descarrilhar minhas ideias da inquietante conclusão à qual eu me dirigia, mas o irritante do catolicismo é sua coerência: uma vez que você aceita a estrutura básica de conceitos, todas as outras coisas se ajustam com uma rapidez incrível. 'Os mistérios cristãos são um todo indivisível', escreveu Edith Stein em 'A ciência da cruz'. 'Se entramos em um, somos levados a todos os outros'. A beleza e autenticidade até das mais aparentemente difíceis partes do catolicismo, como a moral sexual, se tornaram claras quando não eram mais vistas como uma lista descontextualizada de proibições, mas como componentes essenciais no corpo complexo do ensinamento da Igreja."
(Megan Hodder, jovem britânica ex-ateia que se converteu ao cristianismo após conhecer o pensamento do Papa Bento XVI, num testemunho sobre sua mudança de vida - leia aqui)

O texto acima é apenas uma parte de um testemunho de conversão de uma jovem britânica. Essa moça, chamada Megan Hodder, consegue expressar de uma forma muito bonita e clara a beleza da fé católica. Seu testemunho me tocou bastante. 

De fato, o trecho destacado foi aquele que mais me tocou e despertou em mim a vontade de falar um pouco sobre uma questão banalizada e uma realidade pouco discutida: o uso das pílulas anticoncepcionais.

Para muitas pessoas (inclusive eu, a algum tempo atrás), o uso de anticoncepcionais se trata basicamente de uma questão de escolha, de liberdade, de controle da própria vida. O que a gente nem suspeita, é que muita coisa está por trás da contracepção oral e nem tudo é colocado às claras para nós, mulheres, pelos médicos, amigos, mídia...

Pessoalmente, muita coisa mudou pra mim quando eu pude ler a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI. Na verdade, há algum tempo eu já havia tomado a (controversa) decisão de parar de tomar pílulas anticoncepcionais, com apenas alguns meses de casada. Mas a carta papal me ajudou a solidificar a minha decisão e fundamentá-la ainda mais. 

Mas do que trata a Humanae Vitae? Trata da vida humana, como o próprio o nome diz, e da participação do homem de forma maravilhosa no projeto da criação de Deus:

"O problema da natalidade, como de resto qualquer outro problema que diga respeito à vida humana, deve ser considerado numa perspectiva que transcenda as vistas parciais - sejam elas de ordem biológica, psicológica, demográfica ou sociológica - à luz da visão integral do homem e da sua vocação, não só natural e terrena, mas também sobrenatural e eterna. E, porque na tentativa de justificar os métodos artificiais de limitação dos nascimentos, houve muito quem fizesse apelo para as exigências, tanto do amor conjugal como de uma 'paternidade responsável', convém precisar bem a verdadeira concepção destas duas grandes realidades da vida matrimonial, (...)O amor conjugal exprime a sua verdadeira natureza e nobreza, quando se considera na sua fonte suprema, Deus que é Amor, 'o Pai, do qual toda a paternidade nos céus e na terra toma o nome'. O matrimônio não é, portanto, fruto do acaso, ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas."
"(...) pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher. Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade."

A partir das santas palavras do Papa Paulo VI, pude conhecer melhor algo que eu sempre soube, mas que por conveniência das minhas próprias vontades, escolhia por ignorar: a essência do sexo como ato de geração de vida. Mas isso é tão óbvio, porque a gente continua fazendo questão de tentar mudar? Porque o sexo, quando vivido de forma 'incorreta', é um daqueles "benefícios" de que eu falava em um post a algum tempo atrás.


"§2348 Todo batizado é chamado à castidade. O cristão se vestiu de Cristo, modelo de toda castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu específico estado de vida. No momento do Batismo, o cristão se comprometeu a viver sua afetividade na castidade.

§2349 A castidade há de distinguir as pessoas de acordo com seus diferentes estados de vida: umas na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar mais facilmente a Deus com um coração indiviso; outras, da maneira como a lei moral determina, conforme forem casados ou celibatários. As pessoas casadas são convidadas a viver a castidade conjugal; os outros praticam a castidade na continência:

Existem três formas da virtude da castidade: a primeira, dos esposos; a segunda, da viuvez; a terceira, da virgindade. Nós não louvamos uma delas excluindo as outras. Nisso a disciplina da Igreja é rica."

A falta de castidade, em qualquer de suas formas, é uma mentira que nos ensinam cada vez mais cedo. Para solteiros e casados, o sexo vivido de forma errada traz uma contraposição entre o que o corpo expressa e o que a alma experimenta: o corpo insinua uma entrega total, insinua um amor pleno, mas a alma revela a falta de compromisso e amor. Para viver a castidade é preciso que o cristão creia que é possível odiar o pecado e buscar a santidade. Mas para odiar esse pecado, essa mentira, precisamos abdicar de todos os benefícios que o pecado nos traz, entre eles o prazer, a sensação de liberdade, de auto-controle. Precisamos abdicar dos peixes, alhos e cebolas do nosso Egito, pois, ainda que nos pareçam apetitosos e tentadores, não queremos viver escravizados. (O lado "bom" da escravidão).

O mundo quer que vivamos escravizados, isso é verdade. E a pílula anticoncepcional exerce papel fundamental nessa trama: sem ela, o sexo livre seria difícil, não é mesmo? E é com ela, principalmente, que o fundamento principal do ato sexual como fonte da vida humana é deturpado.
Assim, para as mocinhas solteiras (como um dia eu mesma já fui) que acreditam que têm o direito de fazer do seu corpo o que bem entenderem e que virgindade é uma instituição opressora criada pela Igreja que já não faz sentido mais, ou para o jovem casal que, numa adolescência duradoura e resistência à maturidade, adiam indeterminadamente a paternidade, os anticoncepcionais surgem como a solução perfeita e milagrosa.

Mas toda essa posição e cultura atual tem que ser discutidas! O que parece liberdade é, hoje, uma ditadura. A ditadura do sexo casual e sem responsabilidade. 
"A Igreja Católica é frequentemente acusada de ser machista e castradora devido à sua posição firme em assuntos sexuais. Para os detratores da fé, a realidade do mundo moderno não comporta mais o radicalismo cristão, por isso, a pregação sobre a castidade não seria somente antiquada, mas inoportuna. Percebe-se, assim, um aumento progressivo no estímulo à sexualidade precoce, que já não poupa nem adolescentes, nem crianças. 
Sucede que as consequências desse tipo de mentalidade têm sido catastróficas. Não obstante o lobby da mídia e de empresas de marketing em cima de imagens pornográficas, os frutos do erotismo hodierno falam por si. Conforme denunciou o arcebispo de La Plata, Argentina, Dom Héctor Aguer, o sexo casual é uma fonte de estresse, sentimento de culpa, arrependimento e tristeza. As declarações foram feitas durante seu programa televisivo semanal, 'Chaves para um mundo melhor', e têm por base vários estudos de universidades americanas." (Risky Business: Is There an Association between Casual Sex and Mental Health among Emerging Adults?)

O beato Papa João Paulo II, em sua grande sabedoria, nos ensina na Encíclica Mulieris Dignitatem sobre o perigo da desvirtuação da finalidade do sexo: "A dignidade da mulher e a sua vocação — como, de resto, a do homem — encontram a sua vertente eterna no coração de Deus e, nas condições temporais da existência humana, estão estreitamente conexas com a 'unidade dos dois'. Por isso, cada homem deve olhar para dentro de si e ver se aquela que lhe é confiada como irmã na mesma humanidade, como esposa, não se tenha tornado objeto de adultério no seu coração; se aquela que, sob diversos aspectos, é o co-sujeito da sua existência no mundo, não se tenha tornado para ele 'objeto': objeto de prazer, de exploração." (Papa João Paulo II, na Mulieris Dignitatem).

Onde falta a castidade, abunda o egoísmo. Onde o egoísmo reina, chega-se, segundo as palavras do Papa, à transformação da mulher como objeto do homem. Não nos enganemos: ainda que a própria mulher se dê como objeto, por sua "livre" opção, ela não passará disso. 

Assim, de uma fonte de liberdade, a pílula se mostra, na verdade, como uma corrente que nos aprisiona. E tem aprisionado muitos homens e mulheres. Além de perda da sua dignidade, a maioria das mulheres que usam pílulas anticoncepcionais não sabem de uma outra horrível realidade que se esconde por trás desta prática: Abortos Ocultos, e é impressionante pensar que esse é um fato tão ignorado.

Você, mulher, que faz uso de anticoncepcionais, já tomou o tempo de ler a bula do seu medicamento e tentar entender o que ali está escrito? Façamos isso agora. Um anticoncepcional bastante usado é o Adoless®.
Na sua bula lê-se:
"(...) compr. ativos brancos com 0,015 mg de etinilestradiol e 0,060 mg de gestodeno (...). A associação gestodeno + etinilestradiol é um contraceptivo oral monofásico, que atua primariamente inibido a ovulação pela suspensão da liberação de gonadotrofina." Aqui a chave é a palavra primariamente. 
Um outro medicamento, de composição idêntica, fabricado por outro laboratório é o Minesse®.
A sua bula, mais detalhada, traz as seguintes informações: "Minesse® é um contraceptivo oral que combina 2 hormônios, o etinilestradiol e o gestodeno. Os contraceptivos orais combinados, que possuem 2 hormônios em sua composição, agem por supressão das gonadotrofinas, ou seja, pela inibição dos estímulos hormonais que levam à ovulação. Embora o resultado primário dessa ação seja a inibição da ovulação, outras alterações incluem mudanças no muco cervical (que aumenta a dificuldade de entrada do esperma no útero) e no endométrio (que reduz a probabilidade de implantação no endométrio)."

O que o primeiro laboratório esconde, o segundo revela de maneira mais honesta. Apesar do que nos é ensinado, as pílulas anticoncepcionais não previnem a gravidez simplesmente pela inibição à ovulação. Essa é sua atuação principal, mas pode acontecer sim de uma mulher, fazendo o uso desse tipo de hormônios, ovular. Mas o que acontece então? As alterações secundárias causadas pela associação de hormônios fazem com que, no caso da ovulação e da fecundação (a partir do ato sexual, obviamente), o embrião não consiga se implantar no endométrio e (pasmem) seja abortado!

Essa é uma realidade que, se fosse amplamente divulgada, faria com que muitas mulheres pensassem duas vezes antes de optar pela pílula anticoncepcional. Mas, intencionalmente ou não, ninguém traz à tona quando se fala das opção de contracepção.

Estamos tão habituados a achar tudo isso normal que não nos damos a oportunidade de pensar bem sobre o mal que fazemos aos nossos relacionamentos, nossa saúde, nossa alma, ao escolher pelo mais oportuno e prazeroso, sem considerar as consequências dessas nossas escolhas. 

Numa última visita médica de rotina, quando informei à doutora que não tomava nenhuma pílula anticoncepcional, ela ficou desconcertada e me avisou com o ar sério do risco iminente ao qual eu estava exposta de conceber um filho. (O que, diga-se de passagem, não é verdade. Quando necessária, a limitação do número de filhos pode ser feita com métodos naturais, muitas vezes mais eficazes que qualquer método artificial). Para aquela médica, assim como para muitas pessoas, nada mais normal que ceder a cada ímpeto humano, a cada desejo do corpo, e utilizar de toda ferramenta que o mundo coloca ao nosso dispor para isso. Cogitar o caminho mais difícil hoje é, de fato, desconcertante.

Por fim, voltando às palavras de Megan Hodder, se entramos em um mistério da Igreja como a sua posição frente aos métodos contraceptivos, vemos sua beleza e autenticidade e o entendemos, não mais como uma proibição descontextualizada e arcaica, mas como um componente essencial no corpo complexo do ensinamento da Igreja e fruto da visão da natureza do ser humano como parte do projeto divino.

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