domingo, 7 de julho de 2013

Doenças Negligenciadas

Minha aventura pelo mundo da exposição de idéias começou num dia triste. De certa forma, posso até dizer que o dia de hoje chegou a me impulsionar a expor meus pensamentos.

Depois de um longo período no CTI do INCOR, em São Paulo, uma querida tia faleceu na última noite vítima do Mal de Chagas. Acredite: nos dias de hoje, quando as pessoas já tratam câncer com nanopartículas, materiais moderníssimos são utilizados na medicina e a expectativa de vida é a mais alta da história, pessoas ainda morrem de Doença de Chagas!

Lembrei-me, então, das aulas no ICB-UFMG, ainda nos meus tempos do curso de Farmácia, quando uma professora apontava sobre a injustiça gerada pela busca incessante do lucro pelas indústrias farmacêuticas mundiais. “Doença de pobre não dá dinheiro”, dizia ela, enquanto apontava números assustadores que mostravam como as pesquisas relacionadas às chamadas “doenças de países desenvolvidos” (principalmente hipertensão, diabetes e depressão) recebiam a maior parte dos investimentos. Assim, era fácil entender por que a maior parte dos novos medicamentos desenvolvidos se destinava ao controle dessas doenças.
Não se enganem – a mestre concluía – as indústrias farmacêuticas não têm a intenção de curar doenças. Mais e mais recursos são destinados às doenças crônicas, que geram dependência de um medicamento por uma vida inteira.”

Assim, em pleno século XXI, pessoas como minha tia falecem de doenças que não merecem o esforço de pesquisas por novos tratamentos ou, quem sabe, uma cura. Doenças como esquistossomose, leishmaniose, malária, doença de chagas e do sono.

Em setembro do ano passado, os Médicos Sem Fronteiras lançaram um estudo chamado “Fighting Neglect” (Combatendo a negligência). Nesse estudo, a organização mostra a sua experiência de 25 anos no manejo da doença de Chagas, da doença do sono e do calazar (leishmaniose viceral) na América Latina, África subsariana e no Sul da Ásia e no Cáucaso (região entre o mar Negro e o mar Cáspio, que inclui a cordilheira do mesmo nome e as planícies adjacentes).

Essas doenças, juntamente com outras 14, são classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como negligenciadas e causam  a morte de cerca de meio milhão de pessoas por ano. Elas afetam, principalmente, as populações mais pobres do mundo.

No relatório “Combatendo a negligência”, a organização MSF faz uma análise do manejo dessas doenças e conclui que o acesso a tratamento de qualidade requer mais esforços políticos por parte dos principais doadores internacionais e dos países afetados.

O estudo também chama a atenção para a necessidade de mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento, além de novos e efetivos diagnósticos. “Milhares de vidas poderiam ser salvas porque essas doenças são altamente tratáveis e curáveis, mas para isso é preciso políticas para financiar programas que funcionem e iniciativas que desenvolvam métodos de tratamentos e diagnóstico mais eficientes”, disse a médica Carolina Batista, diretora da Unidade Médica de Médicos Sem Fronteiras Brasil, em entrevista ao site de notícias da organização.

O que se percebe é que, como as populações afetadas não representam um mercado consumidor interessante para a indústria farmacêutica, porque são extremante pobres, não há investimentos em melhorias relacionadas à prevenção, diagnóstico e tratamento.
“Os medicamentos usados para o tratamento da doença de Chagas, por exemplo, foram desenvolvidos nas décadas de 60 e 70 e causam efeitos adversos freqüentes”, exemplificou Dra Carolina.”


Infelizmente aquela minha professora estava certa. 

E que Tia Carminha descanse em paz. Vou sentir saudades...

Para mais informações sobre a Doença de Chagas:

Um comentário: