quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A pegadinha do raciocínio de esquerda

Faz alguns meses que tomei gosto pelos vídeos e aulas do Padre Paulo Ricardo. Gostei muito da maneira franca e sem parcialidade com que ele dá suas aulas e introduz um maneira honesta de pensar que até então era desconhecida para mim: principalmente a filosofia aristotélica e tomista. A partir dessas mesmas aulas, conheci o filósofo Olavo de Carvalho, amado por muitos e odiado por outros mais. 
Olavo de Carvalho, como é reconhecido por muita gente, é um importante pensador e estudioso da realidade atual e, de maneira às vezes cruel e brutal, defende com unhas e dentes a honestidade na construção do pensamento científico. Mas claro, que ser humano de boa vontade não defenderia?
Nas suas aulas, Olavo de Carvalho ressalta em diversas ocasiões a malícia do pensamento de esquerda e a pegadinha do seu raciocínio. 
Devo admitir que pensava que isso tudo era mais rixa ideológica que falta de honestidade por parte dos esquerdistas de fato. 
Pensava... Por que com o passar dos meses, ao adentrar cada vez mais no mundo da análise e da reflexão sobre a realidade em que vivemos, vi diante de meus olhos tudo aquilo sobre o que o querido Padre Paulo Ricardo e o estimado Olavo de Carvalho me alertavam.

E o que eu vi? Bom, vi  argumentos de uma lógica sem-lógica, auto-referencial e que, desmascarados pelo lado oposto (nós) pelo o que eles realmente são (infundadas e sem sentido), viram ofensa pessoal e tentativa de desmoralização daquele que discorda.

No mês de Novembro passado, fomos, meu marido e eu, à Irlanda encontrar com um amigo de infância de Otávio. Conhecemos naquela ocasião seu "room-mate", o rapaz que divide o apartamento com ele e sua esposa, que chamaremos aqui de Jack (na verdade nem me lembro se esse era de fato seu nome. Se for, faz de conta de era John). Jack é um cientista social, funcionário do governo irlandês, que faz parte de uma comissão para a saúde mental, ou algo do tipo. 

Após um jantar mais que agradável oferecido por nosso casal de amigos, iniciou-se uma discussão acerca das pressões da ideologia gayzista e como a mídia e as vozes atuais têm feito um esforço gigantesco para a normalização da homossexualidade. Pelo o menos essa era a nossa constatação, minha, do meu marido e dos nossos amigos. Jack, por outro lado, ficou ultrajado com nossa "observação fascista". Sem querer replicar aqui toda a discussão que, não preciso nem dizer, foi cansativa pela atitude "catch me if you can" do nosso interlocutor, Jack, do alto da sua ética e moralidade incólumes, baseou sua argumentação em um ponto muito malicioso:
"Imagine os negros, as mulheres, os índios, e como a inserção desses na sociedade já foi um tabu e considerado 'fora do normal' ou 'não-natural'. Agora, os homossexuais enfrentam os mesmos obstáculos e as mesmas dificuldade de aquisição dos seus direitos que tais grupos já tiveram um dia. Mas a sociedade evolui... E como evoluiu para a questão racial, também está evoluindo na questão de gênero." 

Seu fundamento era que, como os brancos nos Estados Unidos uma vez já consideraram um absurdo pensar em um negro nadando em uma mesma piscina que um branco, nós hoje, heterossexuais, católicos preconceituosos, achamos um absurdo a questão da homossexualidade ser tratada com tanta banalidade na televisão, na mídia, nas escolas, enfim, no mundo em que vivemos.

Para o interlocutor distraído, pode até fazer um leve sentido, de forma que podemos chegar a compadecer do homossexual como excluído. Afinal, quem pensaria hoje em excluir um negro simplesmente por ser negro? Os tempos evoluem e a sociedade aprende com seus erros, né?

Novamente, sem entrar nos méritos da discussão em si, que aqui serve apenas de cenário para o meu argumento da desonestidade da esquerda, vamos pensar no que Jack estava afirmando.
Basicamente, o que ele dizia era que, porque algum segmento da sociedade um dia já errou, nós, por consequência lógica, devemos estar errados. Por que um grupo de pessoas, independentemente da sua representatividade na sociedade como um todo, já cometeu algum tipo de injustiça em relação a um outro grupo social, então, automaticamente, aqueles que rejeitam a banalidade da maneira como a questão de gênero é tratada hoje em dia devem estar errados!
Esse tipo de raciocínio faz sentido? É claro que não! Ele foge do tema discutido em si, abstém-se de entrar no assunto e tira conclusões baseadas em fatos completamente não relacionados. Exposto dessa maneira, parece óbvio que esse tipo de raciocínio seja desonesto, mas, estranhamente, ele é extensivamente usado e está disseminado por toda classe intelectual de esquerda.

Nos últimos dias tenho estudado um pouco mais sobre Islamismo e as dificuldades no diálogo com Muçulmanos a partir do ponto de vista do Cristianismo. Ao descobrir a Jihad Watch e o seu fundador, Robert Spencer, resolvi aprender um pouco mais com ele e suas aulas. Robert Spencer é autor de um controverso livro chamado "Did Muhammad Exist?", que argumenta que Maomé de fato não existiu e que sua existência teria sido inventada em nome da criação de uma religião de identidade árabe. Assim, me aventurei a escutar um debate promovido por uma rádio britânica entre Robert Spencer e Adnan Rashid, um estudioso, pesquisador e difusor do islamismo. 

O interessante nesse debate é a postura claramente esquerdista e desonesta do debatedor com o Sr. Spencer. Spencer começa explicando os pontos levantados por ele no seu livro e faz argumentações de fato significativas para justificar sua dúvida em relação a existência do profeta do islamismo. Para qualquer defensor de uma ideia oposta, essa seria a deixa perfeita para contra-argumentar com os seus fatos e mostrar para ele que, na verdade, ele estava enganado por tais e tais motivos, que suas fontes estavam equivocadas em tais e tais pontos, que as datas citadas estão em desacordo com tais e tais documentos. Bom, era isso o que eu faria, pelo o menos. Ou qualquer pessoa engajada em uma discussão honesta. 
Era o que eu esperava que o Sr. Rashid fosse fazer.

O seu contra-argumento? Ele começa perguntando sobre a fé do Spencer, que logo afirma ser cristão. Mas o que isso tem a ver? Ele argumenta que muitos estudiosos (sem precisar quais) afirmam que a existência de Jesus, como um homem histórico, é no mínimo duvidosa. Afirma categoricamente que a quantidade de fontes históricas sobre Maomé é muito superior a quantidade de fontes sobre Jesus, sem citar nenhuma ou fazer referencias sólidas. Por fim, termina (lembre-se: termina a suposta argumentação de que Maomé existiu) afirmando que Robert Spencer não passa de um hipócrita pois acredita em Jesus e se nega a acreditar em Maomé. Que os argumentos de Spencer não são válidos, pois ele, como cristão, acredita em um indivíduo sobre o qual existem menos fontes históricas a respeito do que sobre Maomé.

Interessante. Muitos anti-cristãos escutando devem ter se sentido satisfeitos pela conquista argumentativa de Adnan Rashid. Conquista que não passou do método malicioso tradicional do pensamento esquerdista. O que ele faz? Prestemos atenção: incapaz de refutar os pontos levantados legitimamente por R. Spencer, ele faz uso de uma lógica duplamente medíocre: usa um raciocínio sem-pé-nem-cabeça sem relação com o tema em questão ao mesmo tempo em que tenta desacreditar e desmoralizar o seu interlocutor. 
Se Jesus existiu ou não. Se sua figura foi também inventada ou imaginada pelos cristãos, ou se de fato existiu um Jesus de Nazaré não faz a mínima diferença para a discussão levantada. Assim mesmo, esse foi o ponto de partida para a refutação de "uma autoridade no assunto". 

É simplesmente vergonhoso ver o conhecimento humano ir decaindo dessa maneira e ver pessoas de argumentação e análise tão fracas sendo levadas a sério. 
Para mim, a ordem da vez é o estudo que, no final das contas, vence e se sobressai e toda essa enganação científica existente por aí. 

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